Folhado secular
Um bolo que se diferencia pela sua massa folhada, muito fina e estaladiça, e pelo seu recheio à base de doce de ovos.
Pastéis de nata, há ao balcão de qualquer pastelaria. Pão-de-ló, é mais raro mas, de Alfeizerão a Ovar, de Arouca a Felgueiras, ainda vai havendo por onde escolher. Com os pastéis de Tentúgal não é assim: há-os na vila, único local onde são fabricados, quando muito, em Coimbra ou na Figueira da Foz e acabou-se. É um fenómeno gastronómico que, tendo alguma projecção nacional, tem expressão puramente local.
A tradição do seu fabrico é tão antiga como original. Resume-se a criar um revestimento para o doce de ovos que não seja a hóstia de que são feitas as figuras que envolvem os ovos moles. A solução, saída, como tantas outras, dos segredos conventuais, é uma cobertura muito fina, saborosa e estaladiça, de massa folhada, feita de farinha de trigo.
Quem prova um, raramente se fica por aí. Razão mais que suficiente para que esteja em curso a atribuição de Indicação Geográfica Protegida, no sentido de proteger a qualidade desta produção de raiz artesanal.
CURIOSIDADES
Raiz conventual – A origem correntemente apontada para os pastéis de Tentúgal é o antigo convento de Nossa Senhora da Natividade, encerrado em 1898. Chamavam-se, então, palitos folhados, designação que evoluíu para pastéis, quando estes começaram a ser produzidos fora dos muros conventuais e vendidos em larga escala. Ganharam a forma actual, alongada, ainda que, por tradição, para as festas de casamento, se fabricassem uns outros, com forma de meia-lua. Também o recheio teve alguma evolução, caindo em desuso o acrescento de amêndoa ao doce de ovos.
Segredo – A grande dificuldade do fabrico destes pastéis está na capa. Pressupõe, para além da habilidade do pasteleiro, o uso de farinha de trigo duro de muito boa qualidade, de forma a que a massa que vai ser trabalhada seja suficientemente elástica.
A caminho da classificação – Tal como para outros produtos típicos da doçaria portuguesa. está em curso a classificação, de forma a que as carcterísticas deste produto único possam ser preservadas e se evite que a quantidade venha prevalecer sobre a qualidade, como tantas vezes tem sucedido entre nós.
