Uma originalidade portuguesa
Uma das mais originais e inesperadas produções portuguesas: chá, cultivado e produzido localmente, na ilha de São Miguel, de acordo com ensinamentos milenares chineses.
Abençoados pela Natureza, os Açores parecem capazes de produzir todas as maravilhas deste mundo, embora sempre em pequena escala. Queijos intensos e saborosos, como os de São Jorge e do Pico. Ananazes mais doces que os tropicais. Charutos que nada ficam a dever aos cubanos. Energia eléctrica arrancada das profundezas da Terra. Vultos ímpares da literatura como Natália Correia e Vitorino Nemésio. E chá, coisa que nenhum outro país europeu consegue produzir.
É na costa norte da ilha de São Miguel, na freguesia da Gorreana, que se dá este prodígio. A fábrica parece um museu de arqueologia industrial mas funciona, até porque o objectivo não é a quantidade mas a qualidade. Notável, saboroso e imprescindível é o chá verde. Se não der mais anos de vida, pelo menos, torna mais felizes e saudáveis os que o beberem. É uma pequena epopeia, herdeira directa dos navegadores lusos que correram o mundo e cuja história remonta a 1750. A marca da diferença e da originalidade mum mundo cada vez mais monótono e uniformizado.
CURIOSIDADES
Desde o século XVIII – Se a data correntemente admitida para a introdução da cultura do chá em São Miguel é 1750, foi a partir de 1874, que houve fornecimento regular de sementes, tendo, por essa altura, chegado peritos chineses que ensinaram aos incipientes produtores locais as técnicas de preparação das folhas. Chegou a haver na ilha mais de uma dezena de plantações, cada qual com sua fábrica. Apenas sobreviveu, com algum sucesso, a Gorreana, onde são cultivados 23 hectares, correspondentes a uma produção anual de 40 toneladas de chá seco. Existe outra fábrica também na costa norte de São Miguel, em Porto Formoso, que, depois de algumas dificuldades, reabriu em 1998. A proporção entre o chá em folha e o pronto a deitar na chávena é, em peso, de quatro para um.
Ciclo trágico – No século XVIII, São Miguel viveu uma época próspera com a exportação de laranja. Uma praga destruiu, em dois anos, a totalidade dos laranjais. Para fazer face à bancarrota geral foram importadas novas culturas, tendo resultado o tabaco, a batata-doce, a beterraba sacarina, o ananás e o chá.
Verde e preto – Na Gorreana produzem-se três tipos de chá preto: Orange Pekoe, Broken Leaf e Pekoe. Para além deste, fabrica-se um único tipo de
chá verde, conhecido pelas suas propriedades anti-oxidantes, o Hysson.
Sucesso alemão – Num mercado onde os gostos ecologistas têm um peso crescente, como é o caso da Alemanha, os chás açorianos começam a conhecer algum sucesso pelo facto de, nas plantações, não serem utilizados herbicidas nem outros produtos químicos. O controlo das pragas e parasitas é feito por colheita manual.
INFORMAÇÕES
Fábrica de chá GORREANA
www.gorreana.org
Os chás açorianos estáo à venda nos hipermercados portugueses bem como em lojas da especialidade, quer em Lisboa, quer noutras cidades.