EXPERIÊNCIA #81 - Poncha

Remédio santo para o frio

Uma bebida que correu o mundo. Da Índia para os viajantes britânicos. E da colónia inglesa, primeiro para os madeirenses abastados e, depois, para o povo em geral.

Gastam-se milhões a tentar produzir antídotos e vacinas para proteger da Gripe-A quando a sabedoria ancestral madeirense já, há muito, tinha descoberto a solução. Não é injectável, nem receitada em pílulas. Administra-se por via oral as vezes que forem necessárias. E está provado que não provoca reacções alérgicas. Bem pelo contrário...
A poncha está para os resfriados e as dores de garganta como a bomba atómica para a guerra: é infalível! Mistura de aguardente de cana, água, açúcar e limão (a que, eventualmente, se acrescenta mel), terá sido introduzida na ilha pela colónia britânica que, por sua vez, terá tomado contacto com ela na Índia.
Dos salões e palacetes a poncha desceu às casas humildes das fajãs e tornou-se numa das bebidas mais populares da Madeira, tendo lugar de honra nas grandes festividades locais, desde a Romaria da Senhora do Monte, no Funchal, à da Senhora da Piedade, no Caniçal.

CURIOSIDADES

Locais à escolha – Ao falarem da poncha os madeirenses dividem-se. Uns dizem que a bebida é originária de Câmara de Lobos. Outros que onde melhor se bebe é em Ponta do Sol. Há quem a prefira como digestivo ou quem a tome como cura dos resfriados. Como, também, não faltam os adeptos de uma boa poncha acompanhada pelo Dentinho, ou seja, pelo bacalhau à moda de Câmara de Lobos.

Aditivos – Ao princípio tudo era simples. A receita resumia-se a aguardente de cana, sumo de limão e mel. Depois, à medida que a bebida se popularizava e ganhava adeptos, começaram as invenções, substituindo o mel por sumo de maracujá ou de laranja, quando não indo mais longe e trocando a tradicional aguardente de cana-de-açúcar por whisky ou, em versões mais radicais, por absinto.

Caprichos do vocabulário – Numa bebida feita à base de tantos ingredientes, está mais que visto que uma das condições de sucesso é uma correcta mistura de sólidos e líquidos. O engenho popular criou um intrumento, ramificado em baixo, difundido por toda a ilha. Uns chamam-lhe «pau da poncha», o que tem a sua lógica. Outros dão-lhe o nome de «mechelote» dada a sua óbvia função de mexer. Há, ainda, quem prefira a designação «caralhinho», vá-se lá saber porquê. Uma originalidade madeirense? Nem tanto, se nos lembrarmos que em São Martinho de Angueira, nos arredores de Miranda do Douro, a rede de apanhar caranguejos de rio se chama «tesão». Em Mirandês, bem entendido.

INFORMAÇÕES

É tão famosa que existem versões industrializadas e engarrafadas que se vendem nos hipermercados do continente (literalmente falando e não só). Mas o melhor é bebê-la localmente, acabada de preparar, de preferência em dia de festa.

 

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