O perfume da paixão
«O manjerico comprado / Não é melhor que o que dão. / Põe o manjerico ao lado / E dá-me o teu coração». Quadra de gosto popular atribuída a Fernando Pessoa
Nos filmes românticos dá-se «o mundo inteiro num beijo». Na vida real as provas de amor são outras, talvez menos grandiosas, mas nem por isso menos coloridas. Quem, na véspera de Santo António, nunca ofereceu um manjerico à pessoa amada deve, urgentemente, marcar um electrocardiograma: o coração não deve bater grande coisa...
A tradição lisboeta foi industrializada e globalizada. Nos Santos Populares, em qualquer banca dos bairros históricos há filas de vasos com manjericos, cada qual com sua quadra, alinhados que nem soldados na parada. Mas, apesar de tudo, não é consumismo puro e simples. O amor, simbolizado pelo manjerico, só será profundo e duradouro se quem o recebe cuidar devidamente dele até ao ano seguinte.
Por isso, esqueça outras provas de amor – anéis, diamantes, colares – que só relevam do vil metal e leve a pessoa amada a Alfama e comprem em conjunto um manjerico. Passem a mão pela folhagem e reparem como cheira, melhor que qualquer perfume engarrafado. E, se um ano depois, ainda estiver viçoso, é porque a hora da compra foi auspiciosa e o resto também.
CURIOSIDADES
Erva para toda a obra – Chamam-lhe erva dos namorados e a sua compra pelos Santos Populares é, tradicionalmente, um acto de amor. Mas não serve só para fazer vasos e pendurar quadras. O chá de manjerico tem, entre outras, a virtude de remoçar os corações destroçados e de, não dando asas, dar, apeasar de tudo, novas energias. Basta deitar cinco gramas de folhas frescas numa chávena de chá a ferver, adicionar umas gotas de limão e adoçar. É remédio santo. Também tem utilização culinária. Pode ser combinado com omoletes, ovos mexidos carne, peixe, saladas, massas e tomates, condimentando estes pratos. Deita-se no fim, sem cozer as folhas, devendo estas ser cortadas à mão.
Todos os santos ajudam – Ainda que a associação mais imediata seja à véspera de Santo António (13 de Junho), a oferta ou troca de vasos com manjerico também se faz, tradicionalmente, pelo São João (24 de Junho). No primeiro caso estamos a falar de uma festa sobretudo lisboeta, enquanto no segundo é do Porto que se trata. Mas, tratando-se de rituais herdados de antiquísimos ritos do solstício de Verão, têm expressão um pouco por todo o país, tal como o ancestral salto da fogueira.
Saber cheirar – O perfume do manjerico é doce mas cheirá-lo de muito perto pode matar a planta. Manda tradição que se passem levemente as mãos pelas folhas, levando-as em seguida ao rosto para cheirar. Além do mais é, seguramente, mais romântico.
INFORMAÇÕES
Alguna informação sobre a planta do manjerico http://ervaroma.blogs.sapo.pt/2478.html