Serenata ao luar
«Ó Coimbra do Mondego/E dos amores que eu lá tive/Quem te não viu, anda cego/Quem te não ama, não viu».
José Afonso
É um dos grandes momentos da Queima das Fitas, a maior e mais antiga festa universitária portuguesa. É junto à Sé Velha, já noite fechada, que se realiza a serenata monumental. O que se canta é Fado de Coimbra, diferente do de Lisboa, quer nas harmonias, quer, sobretudo, na temática das letras. Luis Goes, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e muitos outros ilustraram-se, quer no enriquecimento do género, quer, na sua subversão criativa.
As vozes e o trinar das guitarras elevam-se na noite, ecoando nas espessas paredes da igreja e nos recantos da Alta coimbrã. Reina um silêncio sepulcral, apenas quebrado, nos intervalos entre as músicas, pelo tossir do público, que a rígida tradição não permite outra forma de aplaudir. Reacções mais efusivas ficam guardadas para os concertos de «rock», quando não de música pimba. Uma ambivalência que não escapou ao olhar crítico de Rui Reininho que, um dia, abriu um concerto dos GNR na Queima das Fitas com um sonoro: «Olá, Portugal dos Pequeninos...»
CURIOSIDADES
Tradição musical – A aula de música é quase tão antiga como a própria universidade de Coimbra, remontando a 1323. De entre as grandes figuras do panorama musical português, destaca-se Carlos Seixas, um dos grandes compositores da época barroca.
Coros para todos os gostos – Há quem chame a Coimbra a Cidade dos Coros, tantos e tão variados são estes. De entre os coros académicos, refiram-se o Orfeon Académico de Coimbra, o Coro Misto da Universidade de Coimbra e o Coro da Capela da Universidade de Coimbra. O Orfeon Académico tem 128 anos, sendo o mais antigo de Portugal, em actividade e um dos mais antigos da Europa. Por aqui passaram Luiz Goes, José Afonso, Fernando Machado Soares e muitos outros. Só a patir de 1974 começou a admitir elementos femininos, ainda que, desde 1956, já existisse o Coro Misto. Num registo totalmente diferente a Orxestra Pitagórica tem passado os últimos 25 anos a tentar fazer um equivalente moderno das cantigas de escárnio e maldizer.
Duas cidades numa – Tanto do ponto de vista dos usos e costunes como no plano urbanístico distiguem-se, pelo menos, duas Coimbras. A Alta, das faculdades e repúblicas onde a presença estudantial é esmagadora. E a Baixa, comercial e ordenada, tendo à ilharga os animados quarteirões da Baixinha, saboroso labirinto de lojas antigas, tascos e comércio tão diverso como interessante.
A canção como arma – Se, desde o início dos anos 60, cantores como José Afonso ou Adriano Correia de Oliveira tinham introduzido novos temas no fado de Coimbra, abrindo-o a uma outra visão da sociedade e à contestação da ditadura, é com o Luto Académico (greve às aulas e aos exames) de 1969 que se dá, na música, a descolagem definitiva relativamente à tradicional temática coimbrã.
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