O paraíso da caminhada
"As levadas desvendam uma Madeira majestosa que escapa ao turista apressado e ao residente acomodado ao automóvel.” Raimundo Quintal, geógrafo e investigador.
Durante séculos, os agricultores madeirenses enfrentaram um problema, aparentemente, insolúvel: a maior parte da água está do lado norte da ilha mas os melhores terrenos e os maiores centros urbanos estão do lado oposto. A única possibilidade era canalizar a água de um ponto para o outro. Mas como fazê-lo com uma topografia tão adversa?
Fruto da teimosia e do engenho dos madeirenses nasceram as levadas. São condutas ao ar livre, por regra com meio metro de fundo, que se desenvolvem ao longo das curvas de nível, contornando as montanhas e, quando não havia outra hipótese, furando por baixo delas. São centenas e centenas de quilómetros de valas e aquedutos, sempre acompanhados por um passadiço, para garantir a manutenção e as deslocações entre pontos, de outra forma dificilmente acessíveis.
É o paraíso do «trekking». Anda-se ao longo de encostas cobertas de vegetação luxuriante donde caem cascatas intermináveis. Atravessam-se túneis com centenas de metros. Passa-se ao lado de bosques e campos floridos. E sempre com o correr da água como companhia. A duração da viagem, o grau de dificuldade e a direcção ficam ao critério de cada um, desde uma relaxante meia-hora de passeio até um dia inteiro no meio dos montes.
CURIOSIDADES
A companhia de um bom livro – Uma volta pelas livrarias do Funchal porá em evidência a profusão de guias e outros livros editados sobre as levadas, muitos dos quais em línguas estrangeiras. Convém passar os olhos por esta literatura, bem como pelos mapas da ilha, incluindo as sempre rigorosas e explicativas cartas 1/25.000 do Instituto Geográfico do Exército. De entre o material disponível, a escolha vai, sem dúvida, para «Levadas e Veredas da Madeira» de Raimundo Quintal.
Bom senso – O piso pode apresentar-se escorregadio e as derrocadas ou os temporais podem desaconselhar a caminhada. Há passagens não recomendáveis a quem sofra de vertigens. E túneis que, pela sua extensão, poderão impressionar ou fatigar os menos bem preparados física e psicologicamente. Para além disso, as marcações e indicações para os caminhantes são incompletas e deficientes. E um dia ao sol, a altitudes elevadas, pode deixar marcas nas peles mais ensíveis. Resumindo: seja prudente, não sobre-estime as suas forças, não parta sózinho e tenha bom-senso.
Túneis – Surgem em muitos dos traçados e, no caso da Levada das Rabaças (com partida da Encumeada), são muito extensos: um com 600 m e outro com 2,5 km. Leve luzes na mochila (um frontal a pilhas e uma lanterna-dínamo regarregável) e calçe botas e meias resistentes à água. Não faltam troços inundados ou lamaçais com alguma profundidade. A boa notícia é que, por motivos óbvios, água não falta.
Para treinar – Se tem dúvidas quanto à sua capacidade para se adaptar a este tipo de caminhada, faça uma experiência simples. Suba do Funchal para o Monte, pelo teleférico respectivo. Uma vez lá no alto, pergunte pela Levada dos Tornos que conduz à Choupana (onde pode apanhar o autocarro de volta para a capital madeirense). Metade do passeio faz-se por vereda florestal e a outra por levada. Esta é suficientemente curta para não cansar, mas tem todos os ingredientes para o pôr à prova: cimento escorregadio, trilho estreito, vegetação no caminho, etc.
INFORMAÇÕES
Turismo da Madeira
www.madeiratourism.org
Algumas recomendações
Mesmo com o auxílio de livros e mapas, a insuficiência das marcações no terreno pode induzir em erro. Por isso, e por muito bonita que seja a paisagem, vá com atenção, sobretudo nas bifurcações e encruzilhadas. Apenas um exemplo: se partir da Encumeada, pela Levada do Norte, e a sua direcção for São Vicente tenha atenção para não perder o primeiro túnel à direita, cerca de 1 km após o início do passeio. A abertura apresenta-se à direita, na parede, fora do trilho principal e num plano ligeiramente inferior. Caso se engane, entrará na exigente Levada das Rabaças, onde o esperam dois túneis, um com 600 m e o outro com 2,5 km. E irá acabar na estrada do Paul da Serra após uma longa subida.
Nenhum destes percursos retorna o ponto de partida. Se viaja sozinho ou num grupo pequeno, preveja um táxi ou outro transporte no final da caminhada. Para grupos maiores há sempre um truque: dividir a equipa ao meio, indo cada qual para seu extremo e aí deixando estacionados os respectivos carros. Quando se cruzarem, além de confraternizarem e fazerem um piquenique, não se esqueçam de trocar de chaves de carro....
Ainda que esse serviço seja pago e os preços possam não ser convidativos, se não quer ter quaisquer problemas, pode sempre juntar-se aos grupos organizados com guia e transporte incluído. Não faltam escolhas.
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