Bosque mágico
«Um mundo de primária beleza (...) que ora fugia esquivo pelas brenhas (...) ora sorria de um postigo acolhedor e fraterno» Miguel Torga, «Portugal»
Aquilo que na Mata do Buçaco ou na Serra de Sintra são meros vislumbres aqui torna-se numa constante: a sensação de ter passado para outra dimensão. À maneira dos «Contos de Narnia» ou do «Sonho de uma Noite de Verão» perdemo-nos entre carvalhos seculares e penedos cobertos de musgo, esperando, a todo o momento, cruzarmo-nos com criaturas de sonho: ninfas, duendes, fadas, animais falantes ... As copas fechadas mal deixam ver o céu e os raios de sol fazem caprichosos efeitos pelo meio das ramadas. Não se ouvem outros ruídos que não os causados pelo vento, pela deslocação furtiva de um ou outro animal ou pelo correr de um regato.
É assim a Mata da Albergaria, coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a meio caminho entre as Caldas do Gerês e a fronteira da Portela do Homem. Bosque de altitude, onde chove frequentemente, a marca dominante é a da frescura. Aqui o musgo dura todo o ano e, mesmo de Verão, as fontes e ribeiros nunca secam.
Foi à sombra destes carvalhos e castanheiros que os legionários romanos vigiaram a construção da estrada de Braga para Ourense e Astorga, peça-chave da colonização do norte da Ibéria. Os marcos miliários ainda lá estão para o lembrar. Também não custa imaginar o abade de Santa Maria do Bouro a caminho da Portela do Homem, em 1385, à cabeça de uma chusma de frades, gente do campo e soldados regulares, que, naquele lugar travarão uma, tão épica como desconhecida, Aljubarrota contra os invasores castelhanos.
Zona de protecção especial, sujeita a condicionalismos de trânsito no Verão, mais vale visitá-la no Outono ou na Primavera ou, quem sabe, num daqueles raros dias bonitos de Inverno.
CURIOSIDADES
Separar das águas – Imaginemos uma gota de chuva que caia na Portela de Leonte. Por uma questão de centímetros, tanto pode correr para sul, indo acabar por engrossar o caudal do Gerês, como deslizar para norte e, neste caso, viajará através da Mata da Albergaria, ao encontro do rio Homem e da albufeira de Vilarinho das Furnas.
Água que regressa – A tecnologia moderna às vezes contraria a natureza por boas razões. Uma conduta muito inclinada liga a albufeira de Vilarinho das Furnas no rio Homem, à da Caniçada no Cávado, a uma cota inferior. De noite, quando a procura de electricidade baixa, a energia sobrante é usada para bombar de volta a água, devolvendo-a a Vilarinho das Furnas, donde tornará a descer, em torrente, no dia seguinte, gerando mais quilovátios à hora de maior necessidade de energia.
Ligação que tardava – Através do paredão da barragem de Vilarinho das Furnas (a aldeia comunitária que Salazar não se importou de afogar no final dos anos 60) uma nova estrada assegura a ligação entre Campo do Gerês e Brufe, aldeia nas faldas da serra Amarela. Um circuito a não perder entre o Gerês e Terras do Bouro que pode passar no curioso santuário de Santo António de Mixões da Serra, integrante do Caminho de Santiago.
INFORMAÇÕES
Parque Nacional da Peneda-Gerês, Centro de Educação Ambiental do Vidoeiro
Lugar do Vidoeiro, 99, Gerês
Tel. 253 390 110
http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007-AP-Geres
Posto de Turismo do Gerês
Av. Manuel Ferreira da Costa, Caldas do Gerês
Tel. 253 391 133
Posto de Turismo de Terras de Bouro
Terras de Bouro
Tel. 253 351404
Acessos
À Mata da Albergaria: pela estrada Caldas do Gerês-Portela do Homem (EN205-5), podendo derivar para a Mata da Albergaria logo a norte da Portela de Leonte.
Às Caldas do Gerês: pela EN103 a partir de Braga (37 km) ou pela EN205-5, a partir de Amares (33 km).
A Campo do Gerês: pela EN 307, a partir de Terras de Bouro.
Circuito de Brufe: por estradas secundárias mas panorâmicas e muito bem sinalizadas entre Campo do Gerês, barragem de Vilarinho das Furnas, Brufe, Santo António de Mixões da Serra, Cibões, Gondoriz e Terras de Bouro, regressando a Campo do Gerês por Covide, via EN 307.
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