Salto para o abismo
«No meio de tão grande desolação, esta queda de 60 metros de altura, onde a água se precipita com violência, não pode deixar de produzir uma impressão inolvidável». Amorim Girão, «Guia de Portugal»
No topo da serra da Freita, entre Arouca e Vale de Cambra, fica a mais espectacular das quedas de água portuguesas. Perto da povoação de Albergaria da Serra, o pequeno rio Caima, afluente do Vouga, é obrigado, nos primeiros quilómetros do seu curso de montanha, a rasgar caminho através de rochas durísimas. De súbito, a consistência do subsolo muda e as águas, sem nada que lhes tolha o andamento, precipitam-se no vazio, vencendo um desnível de 60 m até à fértil planície, lá em baixo.
É um espectáculo extraordinário ver a gigantesca pluma de espuma ondular ao longo do penhasco. Não faltam locais para o fazer e de diferentes perspectivas. É o caso dos diversos miradouros existentes no topo da serra, à volta do topo da queda de água. Outra possibilidade é caminhar uns metros para montante e contemplar o último troço do Caima antes do voo final. Para quem tenha boas pernas, há um trilho pedestre bem assinalado que desce até à base da queda, permitindo apreciar, de um ângulo inesperado, o despenhar daquela muralha de água e espuma.
CURIOSIDADES
Uma serra desconhecida – A serra da Freita, onde chega a nevar de inverno, é uma das mais belas e desconhecidas montanhas portuguesas. Aqui se encontra de tudo: aldeias perdidas no tempo, bosques de carvalhos e castanheiros, curiosidades geológicas e monumentos naturais como a Frecha da Misarela.
Pedras com vida – A desagregação de formações graníticas pela erosão origina um fenómeno curioso, característico desta serra, as Pedras Parideiras. Os penedos abrem-se revelando no seu interior cachos de pedras semelhantes a ovos. Para as proteger da cobiça dos colecionadores sem escrúpulos foram instaladas vedações e montados sistemas de vigilância.
Multidão uma vez por ano – Nos tempos áureos do Rali de Portugal o troço da Freita atraía multidões a esta serra, mesmo tratando-se de uma etapa nocturna. Agora, verdadeiros engarrafamentos, só em altura de neve, quando milhares de pessoas sobem até à cumeada para gozarem um dia diferente.
Cenário dramático – Num local que tanto incendeia as imaginações como é esta queda de água, não admira que Abel Botelho o tenha escolhido para cenário do desenlace do romance «Mulheres da Beira», com a Aninhas de Gondra a lançar-se às águas do Caima.
Património à mesa – Arouca está a meia-hora de carro da Frecha da Misarela. Aqui fica um imponente mosteiro, famoso pelo seu rico cadeiral trabalhado. E é também uma das terras portuguesa onde melhor se come, com a vitela assada e o pão-de-ló em lugares de honra.
INFORMAÇÕES
A partir do litoral o acesso à Freita faz-se a partir de Oliveira de Azeméis ou São João da Madeira, tomando a direcção Vale de Cambra. Aqui chegado deve tomar a a estrada para São Pedro do Sul e Santa Cruz, surgindo, passados 10 km, o desvio para a serra da Freita. No topo as indicações para a Misarela são evidentes.
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