EXPERIÊNCIA #24 - Portas de Ródão

Varanda do alto Tejo

«A linha férrea, sempre à beira do rio, após cinco viadutos metálicos, consecutivos, atravessa, por dois túneis seguidos, a dupla crista quartzítica que o Tejo corta em garganta. São as ciclópicas Portas de Ródáo».
Orlando Ribeiro

Foi a custo que, ao longo das eras, o Tejo foi rasgando caminho através da serra das Talhadas, perto da actual Vila Velha de Ródão. A dureza dos quartzitos fez com que as águas apenas tivessem logrado abrir uma estreita passagem, através da qual, no tempo das chuvas, jorrava uma torrente impressionante.
Hoje o espectáculo perdeu algum do seu dramatismo, uma vez que a construção de sucessivas barragens, tanto a montante, no Tejo Internacional, como imediatamente a jusante, no Fratel, regularizou o curso do rio.
Ainda assim, é um espectáculo a não perder. Na margem direita, junto à torre templária, sentinela doutras eras, domina-se todo o desfiladeiro. Imediatmente em baixo passa a linha férrea da Beira Baixa e voam grifos, de uma colónia que nidifica nesta encosta. Fora da época das cheias, uma extensa península rochosa quase interrompe o correr das águas. E, na margem contrária, distinguem-se os restos das escombreiras deixadas pelas explorações mineiras romanas. Para lá delas uma sugestão da planura alentejana que ali começa.

CURIOSIDADES

Limite da navegação – Ródão foi, até ao advento do caminho-de-ferro, nos finais do século XIX, um importante porto fluvial. O Tejo era navegável daqui para jusante. Por aqui passava minério de ferro vindo de Valência de Alcântara, para além de lã, sal, cortiça, azeite, ou vinho. Havia barcas a ligar as duas margens, usadas, também, durante a transumância dos rebanhos entre a serra da Estrela e o Alentejo.

Sentinelas do Tejo – Aqui foram instaladas baterias no tempo da Guerra dos Sete Anos (1762) para prevenir uma tentativa de avanço hispano-francês na direcção de Abrantes, Santarém e Lisboa, acompanhando o vale do Tejo. Uma outra posição de artilharia defendia a margem contrária. Estas defesas, conjugadas com o mau estado dos caminhos, acabaram por desmotivar os invasores. Contudo, em 1807, o general francês Junot acabou, à falta de oposição, por utilizar a rota do Tejo para chegar a Lisboa. No entanto, e como recordou mais tarde um dos seus adjuntos, se nos desfiladeiros das Talhadas os esperasse uma força decidida a combater, o destino da I Invasão Francesa poderia ter sido outro...

Torre templária – Cabendo à Ordem do Templo a defesa da Linha do Tejo, nos tempos agitados da reconquista cristã, os monges-guerreiros aqui ergueram uma atalaia na margem direita das Portas de Ródão. As ruínas da torre ainda permanecem relativamente conservadas, acompanhadas por uma ermida românica.

INFORMAÇÕES

A viagem entre o Entroncamento e Vila Velha de Ródão, pela Linha da Beira Baixa, é um dos mais bonitos trajectos ferroviários portugueses, desenvolvendo-se sempre ao longo do Tejo. Atravessa as Portas de Ródão, em túnel, pouco antes da estação. www.cp.pt
O acesso rodoviário a Vila Velha de Ródão faz-se pelo nó respectivo da A23. Uma vez na vila, a estrada para a torre (direcção Vilas Ruivas) arranca ao longo da margem direita, junto à passagem de nível e ao enfiamento da ponte para Nisa.

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