Montanha indómita
"A belíssima mata nacional é herança do amor à natureza dos frades carmelitas que aqui viveram em comunidade fechada entre 1629 e 1834."
É um dos raros casos em que mar, serra e bosque parecem estar ao alcance da mão. Para quem esteja na Mealhada, a terra dos famosos leitões, o Atlântico, na Figueira da Foz, está a meia-hora de carro. A serra do Buçaco, essa, está mesmo ali ao lado, correndo paralela à estrada Lisboa-Porto, entre a Pampilhosa e a Anadia. Basta subir um pouco da encosta e lá está a Mata Nacional do Buçaco, às portas das Termas do Luso.
Abranger isto tudo num só olhar é o que se consegue do topo da serra do Buçaco, no miradouro da Cruz Alta. Para oeste, ao longe, vê-se o mar, aparecendo a Anadia e a Mealhada a meio caminho. Mesmo por baixo de nós, a mancha feita de mil verdes da Mata Nacional. Continuando a rodar o olhar, para nordeste distinguem-se as massas poderosas do Caramulo e da Estrela, enquanto para sul é a Lousã que se lhes contrapõe.
Foi no topo desta montanha que, em Setembro de 1810, o general britânico Wellington instalou o seu posto de comando. Beneficiando de uma posição favorável os anglo-lusos retardaram a progressão francesa na direcção das Linhas de Torres Vedras donde, de resto, não viriam a passar. Esta montanha, capaz de vencer as tropas de Napoleão não resistiu, porém, ao gesto de amor dos frades carmelitas que, durante quase 300 anos, a cobriram de plantas trazidas dos quatro cantos do mundo, legando às gerações posteriores um património natural notável.
CURIOSIDADES
Batalha nas alturas – O combate aqui travado, a 27 de Setembro de 1810, opôs as tropas anglo-lusas de Wellington às do marechal Massena, durante a III Invasão Francesa. Uma testemunha ocular relata assim o esforço dos franceses para galgarem a encosta: «Vi subir o general francês Simon pela montanha, agarrando-se às urzes, com a espada entre os dentes; vi trepar, como de gatinhas, os Caçadores que o seguiam...».
Reportagem em azulejos – Os painéis do átrio do Palace Hotel do Buçaco evocam episódios da batalha num registo que, a décadas de distância, prefigura o da banda desenhada. Uma alegoria a não perder.
Hotel romântico – O Palace do Buçaco é uma jóia da arquitectura revivalista de começos do século XX. Projectado, inicialmente, como pavilhão de caça do rei D. Carlos foi adaptado a hotel em 1909, pelo arquitecto e cenógrafo italiano Luigi Manini, também ligado à decoração do Teatro Nacional de São Carlos e ao Palácio da Regaleira (Sintra).
Termas à porta – As termas do Luso ficam a poucos minutos de carro da Mata Nacional do Buçaco. Num ambiente de estância de repouso antiga, o visitante encontra bons exemplos de arquitectura termal, com destaque para o Grande Hotel, projectado por Cassiano Branco. Descendo até à Mealhada e tomando a estrada para o Porto, outra estância termal, a da Curia, espera, também uma visita.
Via Sacra – É um passeio a pé que merece ser feito pelo menos uma vez na vida, mesmo por quem seja avesso a caminhar. Parte em vereda e parte em escadinhas, a via sacra, com as capelinhas alusivas aos diferentes episódios da Paixão de Cristo, sobe desde o jardim do Palace Hotel até ao miradouro da Cruz Alta. É um «banho de natureza» que nunca durará menos de uma hora.
INFORMAÇÕES
Por razões de protecção ambiental e controlo de acessos, a entrada de carro na Mata Nacional do Buçaco é sujeita ao pagamento de portagem. Tem valor simbólico e não custa a dar, pelos momentos inesquecíveis que a visita à Mata proporciona.
Museu Militar do Buçaco – numa derivação da estrada Mealhada-Luso, expõe material bélico e fardas das forças que aqui se confrontaram há 200 anos. Mapas antigos e actuais ajudam a interpretar e situar o campo de batalha.
Tel. 231 939 310
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