O Douro, com majestade
«(O Douro) é, no mapa da pequenez que nos coube, a única evidência incomensurável com que podemos assombrar o mundo». Miguel Torga
No seu longo trajecto, de Miranda do Douro ao Porto, não faltam locais para contemplar o Douro. Lagoaça, Penedo Durão, São Salvador do Mundo ou Casal de Loivos são alguns deles. Mas se houvesse que escolher um só, o miradouro, literalmente falando, seria São Leonardo da Galafura. Assim pensava Miguel Torga e, em matéria como esta, quem se atraverá a contestar a autoridade dum grande escritor, para mais, nascido a poucos quilómetros daqui, em São Martinho de Anta?
O autor de «Contos da Montanha» aqui passou horas intermináveis, a olhar para a paisagem transmontana que tanto amava. Comparou a Galafura à proa de um barco gigantesco que aqui se tivesse virado e encalhado. Algo que só um cataclismo bíblico poderia produzir, bem à altura duma paisagem tão arrebatadora.
Lá em baixo o rio serpenteia, como que hesitante da sua capacidade em transpor tão formidável obstáculo. De um lado e doutro do interminável vale distinguem-se os socalcos rasgados no xisto por gerações de cavadores. No Outono o verde e o castanho das vinhas pintam de luz a paisagem. É, no dizer de Jaime Cortesão, «o mais belo e doloroso monumento ao trabalho do povo português»
CURIOSIDADES
A meio caminho – São Leonardo da Galafura situa-se, sensivelmente, a meio caminho entre Vila Real e a Régua. O trajecto pelo sinuosa estrada, entre vinhedos e precipícios, é um aperitivo para a paisagem que se vai apreciar à chegada ao miradouro.
Linha panorâmica – A linha do Corgo, entre a Régua e Vila Real, é como que uma versão cinematográfica do miradouro da Galafura, proporcionando encadeados de vistas e mudanças de cenário dignos de um mestre do documentário. Os carris serpenteiam pelo meio dos vinhedos, numa espécie de montanha russa que desafia, constantemente, os abismos no fundo dos quais aparece, a espaços, o rio Corgo. (À data de publicação desta obra o serviço está suspenso para obras de requalificação).
Palácio barroco – Depois da majestade avassaladora da Galafura, pouca coisa nos surpreenderá. Mas isso não é motivo para deixar de passar na vizinha cidade de Vila Real e visitar o Palácio de Mateus, desenhado pelo mesmo Nasoni que fez a Torre dos Clérigos e passear nos seus românticos jardins de buxo, dos mais bonitos de Portugal.
Fragas sagradas – E já que se falou de Vila Real, é obrigatório passar em Panóias, nos arredores da cidade, e visitar o santuário rupestre de Panóias onde há milhares de anos se prestava culto a divindades primitivas, cujo poder impressionaria os próprios colonizadores romanos.
INFORMAÇÕES
O acesso a São Leonardo da Galafura faz-se por uma das duas estradas nacionais que ligam a Régua a Vila Real, conhecida como «estrada do aeródromo» (não confundir com a EN2 por Santa Marta de Penaguião). De Vila Real tome a direcção «aeroporto» e da Régua a direcção «Vila Real» por Poiares e Constantim. A derivação para a Galafura faz-se logo a sul de Poiares para quem venha da Régua ou a norte desta aldeia, par quem venha a descer de Vila Real. Saiba, ainda, que a A24, ainda que seja o caminho mais rápido entre as duas cidades, não tem nó de saída relavante para a visita a este miradouro.
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