Esgrima histórica

Não negue à partida uma arte que desconhece

A esgrima histórica é uma arte marcial com cada vez mais adeptos. Seja qual for a razão que move estes guerreiros de capa e espada do século XXI, uma coisa parece certa: aprender a combater pode ser viciante. O Lifecooler quis experimentar a sensação.

Não é todos os dias que podemos viver a experiência de ver uma adaga medieval a aproximar-se do nosso pescoço e num gesto conhecido como posta longa, derrubar o nosso oponente.

Sim, é um facto que o atacante em causa tem nove anos, mas é preciso mencionar que, apesar da tenra idade, é já um praticante com alguma experiência em esgrima renascentista, ao contrário de nós que estamos ali pela primeira vez a experimentar esgrima histórica.

Além disso, o orientador desta aula é, nada mais nada menos, o campeão mundial de espada, Pedro Brito, que arrecadou o título este ano, no Campeonato do Mundo de Artes Marciais, em Vagos, e niguém quer propriamente atacá-lo, nem que seja a fazer de conta.

É claro que tivemos de o fazer e é claro que nos torceu o braço todo, mas como tínhamos começado a aula a aprender a cair, foi fácil, ou até mesmo imperativo, atirarmo-nos ao chão.

Foram 45 minutos nisto, ou seja, cambalhotas para trás e para a frente, a cair de lado, a cair para trás, a posicionar o corpo em posta di ferro, posta frontale e outras postas.

É que na Academia de Esgrima Histórica segue-se a escola italiana. O livro de Fiori dei Liberi, intitulado Fiori di Bagttalia, é assim uma espécie de bíblia dos esgrimistas. E como explica Pedro Brito, estão sempre a aparecer novos documentos antigos que precisam ser investigados. É também isto que é o interessante na esgrima histórica, é o estar sempre a aprender.

No fim, saímos da Sala de Armas do Museu Militar, em Lisboa, a sentirmo-nos a Joana d’Arc (tirando a parte de ter sido queimada numa fogueira).

O gosto pelas artes marciais

Para quem está a tentar perceber o que é isto de esgrima histórica, podemos resumir dizendo que se trata de um conjunto de artes marciais de origem europeia, que recorrem ao uso de armas que hoje em dia já não são utilizadas para fins militares, ou de defesa pessoal, como é o caso das espadas, adagas (espada curta), lanças, bastões, bengalas e pingalins (espécie de chicote usado pelos cocheiros).

E é precisamente o gosto pelas artes marciais que é apontado como a principal razão para a prática desta modalidade mas a maior parte dos esgrimistas da Academia de Esgrima Histórica não esconde o fascínio pelas espadas e por todo o ambiente medieval que cerca esta arte marcial.

“É verdade que existe esse fascínio, o que é natural, ainda está um pouco no nosso ADN. Não é à toa que todas as crianças gostam de brincar com paus”, refere Vera Rebelo da Academia de Esgrima e da Companhia Livre, uma associação que trabalha com tudo o que está relacionado com recriações históricas.

A participação nestes eventos, comuns nas feiras medievais, é um dos objetivos das pessoas que praticam a esgrima histórica, mas os campeonatos desportivos são almejados por outros tantos.

Jessica Gomes é uma das esgrimistas que treina na Academia de Esgrima Histórica para participar em competições internacionais. De Vagos, trouxe o título de Campeã Mundial de Espada e no próximo ano participa num dos maiores eventos de artes marciais da Europa, o Swordfish, na Suécia. Está, portanto, muito mais próxima da Joana d’Arc do que qualquer outra mulher portuguesa.

Um dos aspetos mais interessantes nestes campeonatos é que os participantes não são divididos por sexos, mas sim por peso, por isso homens e mulheres lutam frente a frente, explica Jessica, a meio de uma aula, num tom de voz bastante doce para quem tem uma espada na mão.

Chega o momento em que Jessica tem de combater com o outro campeão, Pedro Brito, e aí a expressão do rosto altera-se, bem como toda a postura, e começa a dança. Foram horas e horas de treino para aqueles dois minutos de combate.

Mais próximos da nossa história

A esgrima histórica é um desporto exigente física e psicologicamente, sem dúvida, mas é também uma forma diferente de nos envolvermos com o nosso passado. Além dos treinos para os combates, os alunos da academia também praticam combates recreativos. Aqui a capacidade de improviso é uma mais-valia e a diversão é garantida.
Simulam-se assaltos e ofensas à honra e as lutas são feitas com espadas de madeira. Homens e mulheres, às vezes lado a lado, às vezes frente a frente, lutam como noutros tempos, na Sala de Armas do Museu Militar, em Lisboa. (A academia tem mais cinco Salas de Armas espalhadas pelo país).

Neste caso as mulheres vencem. A aula termina sempre com o adágio “Aos nossos antepassados, que o meu braço seja forte/Aos meus companheiros, eu vos saúdo”.


Informações úteis:
- Livre-trânsito em todas as Salas de Armas (Museu Militar de Lisboa, Sintra, Loures, Leiria, Tomar e Setúbal): 30€
- Uma Sala de Armas à escolha: 20€

Carla Fonseca 2014-11-26

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