Em Mafra

O sagrado e o profano misturam-se neste regresso a casa de Catarina, do blogue Catrenata. O filho Tomé não ficou muito convencido. Mas não é preciso ser crente para sermos invadidos pela emoção quando assistimos a um concerto de Natal na basílica do Convento de Mafra.

Por Catarina Delgado

Nasci em Lisboa pela fatalidade de não existir em Mafra um hospital que trouxesse bebés ao mundo. Vivi 17 anos com o profundo desejo de viver em Lisboa, de poder estar no centro do mundo. Mafra era uma vila pequena, com poucos interesses para além da escola e de passar horas no café entre amigos. Não é que isso fosse mau… Mas eu ansiava por mais. Mais cultura, mais liberdade, conhecer pessoas diferentes.

No 10º ano, o Professor de Filosofia abriu as hostilidades (e se a Filosofia é tramada!) com um texto sobre o sagrado e o profano, dissertando especificamente sobre o local sagrado. Na altura não compreendi como a pequena vila onde sempre vivera podia ser tal sítio… Além de que tudo o que se chamasse sagrado me enervava, sendo eu profundamente ateia! Cheguei até a ser chamada de ateia por uma amiga de infância, que à saída de uma aula, zangada com não sei o que, chegou cá fora e gritou-me: “Sua... sua... sua Ateia!”, como se de um insulto se tratasse.

Hoje, depois de viver há mais de 20 anos na minha cidade de eleição, Lisboa, compreendo a importância no meu coração da vila de Mafra, que me viu crescer. O meu filho desconhece a verdadeira importância deste sítio para mim e decidi levá-lo ao meu local sagrado, a um local sagrado… A basílica do Convento de Mafra!

Uma igreja imponente onde assistimos a um concerto de Natal a 6 orgãos! Todos os órgãos tocaram em simultâneo num espectáculo incomparável! Pelo menos, para mim!

O Tomé não gostou nada… com muita pena minha! Mas esteve no meu colo, num mimo adorável:

CATARINA
Estou a adorar estes miminhos…

TOMÉ
Eu também, mas este som irrita-me a cabeça!

No arranque da 3.ª música saímos. No exterior do convento, no largo de Mafra, havia uma feirinha com uma banda a tocar. Acho que o meu filho gostou mais!

A pequena vila que me viu crescer está a desenvolver-se. Está longe de parecer o mesmo local onde vivi. Ando pelas ruas e já não conheço ninguém. Descobri também que vai ter um conservatório de música. Finalmente!

 

A autora e o blogue
Em setembro de 2013, quando o filho entrou para o 1º ano, Catarina Delgado decidiu lançar o catrenata onde vai contando pequenas histórias do quotidiano numa coletânea cujo título poderia bem ser "como educar crianças felizes". Interessada e autodidata em questões de educação, Catarina é produtora de TV e vive em Lisboa com o marido Rui e o filho Tomé.

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