Os doces algarvios disputam com os peixes e mariscos o lugar cimeiro da gastronomia da região. Mas a maior glória cabe talvez à doçaria, considerada hoje património nacional. Aqui entram o opulento morgado, os doces queijinhos e o vistoso D. Rodrigo. Refira-se que a maior parte dos doces desta região têm a particularidade de não serem cozidos no forno.
Doçaria de origem conventual, confeccionados numa região onde abundavam as amendoeiras - quem não conhece a lenda do príncipe mouro e da princesa cristã? -, estas especialidades não fogem à regra de muitos ovos e amêndoa. A estes ingredientes se junta com frequência um outro fruto local, o figo seco.
Amêndoas encantadas
O morgado de amêndoa tem o aspecto de um queijo da serra enfeitado, mas a semelhança fica-se por aí pois estamos a falar de uma espécie de alcofa feita com massa de amêndoa e recheada com ovos-moles, fios de ovos e doce de chila! Como morgado que é serve-se em fato de festa, enfeitado com pérolas e motivos feitos com massa de amêndoa e contornado com uma franja tripla de papel de seda, papel cristal e papel celofane.
A mesma massa, ou uma variante, serve para fazer os conhecidos queijinhos do céu ou morgadinhos de amêndoa, moldados em forma de pequenos queijos ou de frutos, animais e legumes que, coloridos com corante comestível, deliciam os olhos antes de deleitarem o paladar.
As amêndoas são ainda o principal componente de muitos outros doces cabendo destacar o bolo mimoso, com fruta cristalizadas e doce de chila, a versão algarvia do toucinho do céu que tem de original o ser cozido em forma quadrada e depois polvilhado com açúcar grosso de modo a imitar um naco de toucinho com sal; os carriços, carrasquinhas ou arrepiados com as amêndoas cortadas em palitos muito finos, os bolos de ovos ou gemas e esse doce de colher que dá pelo nome de amendoada, decorado com canela e que nas festas populares do Algarve faz as vezes do arroz doce. Por vezes as amêndoas destinam-se apenas a enfeitar, como na tarte de claras ou colchão de noiva, torta feita de claras e açúcar, recheada de ovos-moles e enfeitada com os ditos e amêndoas torradas grosseiramente picadas.
Lugar à parte têm os bolos de D. Rodrigo (ou simplesmente Dom Rodrigos, como lhes chamam em Lagos), fios de ovos a envolver doce de amêndoa e ovos que depois de irem ao lume em calda doce são passados por açúcar e canela, regados com um pouco de caramelo e, no final, embrulhados em folha de estanho prateada ou colorida.