Distrito de Viseu - Fundação Aquilino Ribeiro

De refúgio inspirador a casa de memórias

No refúgio do escritor

Soutosa, a aldeia de Moimenta da Beira onde Aquilino Ribeiro passou parte da infância e que mais tarde lhe serviu de abrigo, espaço de criação e segundo lar, acolhe agora uma fundação dedicada ao escritor. É lá, “no coração das Terras do Demo” que a casa-museu, a biblioteca e o jardim revelam a geografia sentimental deste eterno beirão. Entre tílias perfumadas, paredes gastas e objetos pessoais, há um livro aberto para a vida e obra de Aquilino. 

Na Beira profunda que o próprio Aquilino Ribeiro chamou “Terras do Demo” existe um lugar que era como um pedaço de céu para o escritor. A casa de Soutosa (aldeia do concelho de Moimenta da Beira) foi uma autêntica estação central na vida deste filho de padre, que para lá se mudou com a mãe aos 10 anos, em 1895. Ali cresceu até aos 15, quando foi estudar para Lamego, Viseu e Beja, mas a “falta de vocação” seminarista obrigou-o a regressar.

A partir de 1906 passou a fazer vida de cidade grande (Lisboa, Paris, Berlim) mas nunca deixou de voltar às origens, seja para fugir à perseguição do Estado Novo ou para passar longas temporadas de verão, altura em que a escrita se tornava profícua. Afinal, naquela propriedade nasceram obras tão eternas como A Casa Grande de Romarigães ou Quando os Lobos Uivam. Vamos espreitá-la? Para lá chegar de carro a partir de Lisboa ou do Porto, a melhor forma é seguir até Viseu e passar por Sátão e Vila Nova de Paiva. Depois, tome a EN 323 até Soutosa. E nunca é demais lembrar: não se esqueça de conduzir com a máxima proteção.

Aquilino via o mundo de uma casa

Para lá de um grande portão que contrasta com a estreiteza daquela rua de Soutosa, revela-se um pátio fresco e perfumado por duas tílias luxuriantes que o próprio Aquilino Ribeiro plantou. A receção fica numa ponta do edifício, mas a visita começa noutro extremo, pela sala de jantar. À primeira vista parece envelhecida e modesta (como o resto da casa), mas um olhar mais atento mostra inúmeros objetos e detalhes que a enriquecem, como um quadro do pintor Abel Manta, um painel de azulejos com símbolos maçónicos ou uma floreira trazida da Alemanha, a nacionalidade da primeira mulher do escritor. 
Uma pequena escadaria em pedra leva-nos até ao piso superior do edifício e logo à divisão mais simbólica deste museu: o escritório de Aquilino Ribeiro. Vários quadros, com destaque para o de Amadeu de Sousa Cardoso, um busto do escritor aos 27 anos e um armário cheio de livros compõem as paredes, enquanto ao centro, virada para a rua, fica a secretária onde escreveu horas a fio. Tantas, que um dia o levou a questionar-se: “Passei a vida dobrado sobre a banca do escritor e só há pouco dei conta que estava velho. Como foi isso?” Acaso ou não, a verdade é que um antigo calendário afixado na porta não foi além do mês de novembro de 1972, 11 anos antes da sua morte.
Um corredor forrado a caricaturas e azulejos hispano-árabes leva-nos até ao quarto, com pouco mais que uma cama de ferro, duas banquinhas, alguns quadros e uma bengala. Aquilino era despojado de bens materiais, mas não dispensava a varanda desta divisão, de onde alcançava o jardim da propriedade e… o mundo. Paredes-meias fica mais uma sala de memórias onde estão guardados inúmeros objetos pessoais como fotos, cartas e postais, uma pistola e até a uma máscara em gesso feita no dia em que faleceu.

Segue-se uma passagem pelas salas de estar e de chá, onde saltam à vista inúmeras peças de arte sacra e, por fim, à cozinha (já no piso térreo), que parece ter ficado parada no tempo. Se Aquilino fosse vivo haveria de pedir que lhe fizessem uma feijoada “com muita molhanga e pimentinha” ou umas “rijas pançadas de broa rural, rilhadas a paroquiar Corno de Bico", dois pitéus que abriram o apetite dos leitores no livro A Casa Grande de Romarigães.

Aquilino: aqui, ali e em todo o lado

A visita à fundação não se esgota com a casa-museu. Além desta, vale a pena passar pela antiga casa do caseiro (num edifício vizinho), transformada em museu etnográfico sobre o aldeão da Beira. Mobiliário e vestuário da época, objetos rurais e um tear, muitas vezes acompanhados por textos do escritor, dão a conhecer os usos e costumes das gentes locais (sobretudo as mais pobres) em finais do século XIX/inícios do século XX. Uma realidade sempre próxima de Aquilino Ribeiro, que nunca deixou de conviver com o “homem das serras que traz chumbado aos tornozelos todos os grilhões forjados nos tempos bárbaros”.

O mesmo edifício também serve de morada à biblioteca da fundação, onde estão guardados cerca de 8 mil livros de inúmeros autores e várias peças de artesanato português e africano. Ao fundo da sala, um quadro com o retrato de Aquilino contempla o espaço e desafia os visitantes a descobrirem as mais de 25 obras que escreveu ao logo da vida.
Por fim, não deixe de passear pela quinta que rodeia a fundação, uma propriedade com três hectares que deixou de ser cultivada, mas que mantém a alma de sempre. Nessa altura faça como o escritor e contemple as plantas e as árvores destes terrenos, como as tílias que “recobrem a entrada de sombras e perfume”, a uva moscatel que “biblicamente cobre o poço” ou as figueiras “com grandes folhas esparramadas em jeito de esperar outra vez Adão e Eva”. Eis o paraíso de Aquilino no coração das Terras do Demo. 


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Fundação Aquilino Ribeiro

Morada: Rua Juíz Conselheiro Aníbal Aquilino Ribeiro, Soutosa, Moimenta da Beira
Tel.: 232 607 293
www.facebook.com/FundacaoAquilinoRibeiro


 

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