Da aldeia branca à foz da ribeira azul
Aninhada entre o cerro da serra e a ribeira que lhe dá nome, a aldeia de Odeleite é um segredo bem guardado que serve de amostra ao melhor do interior algarvio. Venha daí descobrir uma casa cheia de história, uma barragem a perder de vista e um moinho que resiste ao tempo neste passeio de carro pelos cantos e encantos da freguesia.
Quem passa apressado no IC17 rumo ao litoral algarvio nem sempre se lembra que ali mesmo ao lado, encostado à estrada, está uma das mais típicas aldeias da região do Baixo Guadiana: Odeleite. Apesar de pequena e discreta, esta povoação do concelho de Castro Marim bem merece uma visita.
Entre o casario da terra, pintado maioritariamente de branco, há dois pontos de paragem obrigatória: a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Visitação, situada num extremo da aldeia junto à ribeira, e a Casa de Odeleite.
Se a primeira estiver aberta (algo que nem sempre acontece) não deixe de prestar atenção ao orago da padroeira, às pinturas sobre tábua e às peças de ourivesaria antiga que compõem o espólio deste templo setecentista. Caso contrário, siga para a Casa de Odeleite porque esta conta com uma funcionária em permanência (todos os dias, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00) para receber os visitantes.
O coração da aldeia numa casa
A Casa de Odeleite foi no início do século passado um dos mais importantes entrepostos comerciais da região e a casa mais rica da freguesia. Era lá que a população se abastecia de tudo e mais alguma coisa (alimentos, xaropes, tabaco, etc.) e, em troca, oferecia mão-de-obra para a manufatura de cestos que depois eram vendidos para todo o país. Mas o principal produto comercializado pela casa era mesmo a amêndoa, fruto seco que chegou a exportar em grandes quantidades para os Estados Unidos.
Depois de totalmente remodelado, o edifício revive agora os tempos áureos da casa (onde não faltam sequer motivos de arte nova), ao recriar o ambiente de cada uma das suas divisões, desde a adega à casa do forno, passando pela sala de costura e quartos dos proprietários. Outro espaço nobre é o pátio exterior, agora utilizado como bar/esplanada e zona de eventos.
A casa serve também de centro de exposições e documentação (guarda mais de 3000 documentos e objetos da época), além de arquivo gastronómico e loja de produtos regionais.
Da barragem à foz
Uma vez conhecida a aldeia, há duas formas de partir à descoberta do resto da freguesia: fazendo um percurso pedestre circular de 11 quilómetros - PR4 Odeleite de Perto e de Longe - ou voltando a pegar no carro (como nós) em direção à barragem. E nunca é demais lembrar: não se esqueça de conduzir com a máxima proteção. Pouco depois de seguir caminho, terá de passar por baixo do IC27 e seguir em direção ao miradouro. Daqui obtêm-se os melhores panoramas para o espelho de água, qual oásis inesperado que traz mais vida e cor à paisagem eminentemente seca e agreste do interior algarvio. Fotografada do céu, a ribeira parece serpentar entre a serra, o que lhe valeu o epíteto de Dragão Azul.
Se tiver fome estará no sítio certo porque nas redondezas fica o restaurante Bela Vista, cujo nome já diz tudo sobre o cenário que oferece. Saciado o corpo (com a refeição) e a alma (com as vistas) é tempo de rumar até ao segredo mais bem guardado de Odeleite: o moinho de água das Pernadas.
A melhor forma de lá chegar é seguindo por uma estrada de terra batida paralela à ribeira de Odeleite (neste caso, deve fazer o caminho a pé) e, a certa altura, há de avistar o moinho, recuperado em 2012. Não muito longe, fica a confluência das ribeiras de Odeleite e da Foupana e pouco depois será a vez destas se juntarem ao rio Guadiana.
Um final em beleza para este passeio, já que termina junto a um dos cenários mais bonitos da região, e ao mesmo tempo para a pequena ribeira de Odeleite. Depois de correr pela serra do Caldeirão, de transformar-se em dragão azul e de mover moinhos e marés há de repousar finalmente na companhia do Grande Rio do Sul.
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