Quando, em 1846, Almeida Garrett escreveu Viagens na Minha Terra falava-se do comboio como hoje se fala do TGV. Então como agora, as opiniões dividiam-se. Garrett, embora um Bravo do Mindelo e um progressista, desconfiava do novo meio de transporte, ao qual preferia as estradas, tidas como instrumento mais eficaz daquilo a que hoje chamaríamos desenvolvimento local, ponto de vista, de resto, partilhado por Alexandre Herculano.
A descrição da viagem é muito interessante, evocando o tempo em que se subia o Tejo de vapor até ao cais da Azambuja. Toda a paisagem ribeirinha que hoje se avista da janela do comboio entre a Gare do Oriente e Vila Franca era fruída de uma outra maneira, a bordo do barco.
É nesta fase da viagem que o autor foi chamado a dirimir o conflito entre campinos e pescadores, cada qual reivindicando ser a classe mais profissional mais corajosa. A argumentação de Garrett é pragmática e demolidora: afinal quem tem mais força, um touro ou o mar?
Ainda hoje as ruínas do Palácio, junto à Vala Real da Azambuja, evocam o tempo em que a primeira parte da viagem Lisboa-Santarém era feita de barco. Se quiser ver este interessante património poderá chamar um táxi na estação da Azambuja.
Se é amante do ciclismo e transportou a sua bicicleta consigo (o que é possível nalguns comboios, nomeadamente Regionais), pedale 20 minutos pelas estradas secundárias da lezíria (acesso pela rotunda junto às bombas de gasolina, subindo o viaduto que passa sobre a via férrea e tomando a direcção «Palácio»)
Rui Nogueira 2011-02-02