Primeiro, bebemos pelos olhos. A aparência do vinho, brilhante ou turva, espumosa ou sombreada. Depois, podemos apreciar as lágrimas, aquelas gotículas que se agarram à superfície do copo. Olhemos de novo.
Há quem procure o aroma a fruta. Isso quer dizer, apreciar o cheiro a uva. Mas logo de início o que pode surgir à primeira aspiração é enxofre, rolha ou até a mofo. Na verdade, o que atrai é o seu bouquet.
Mas ainda falta, o melhor: o paladar. Antes disso, há o toque na língua onde se sente a textura. Será ácido ou doce? Adstringente ou acre? Tem gout au terroir ou é gouleyant? Bem… o melhor é saborear o vinho. Um verdadeiro apreciador pode até descobrir a casta e aventurar-se na idade.
Depois, delicia-se com os aromas: frutados ou florais, com toques de especiarias ou madeirizados com cedro, resina, pinheiro ou carvalho. Aquilo que ninguém quer é um vinho sem carácter ou insípido, prefere-se um vinho charpenté, isto é, equilibrado. Até aqui está a ter dificuldade em acompanhar?
Se gosta de vinhos e ainda está a dar os primeiros passos, então este pode ser um bom princípio. Aqui não se fala para enólogos, esses sabem como e onde encontrar o vinho adequado. Este texto dirige-se mais a aspirantes a enófilos, os aficcionados que estudam a cultura do vinho e sentem curiosidade pela ciência da vinificação, a Enologia. Falemos de alguns prazeres do vinho, esse produto obtido a partir da fermentação de uvas…
Dolce fare niente
Se o que lhe agrada é encontrar um bom local para apreciar um vinho do Porto e uma bela paisagem, nada melhor do que o Solar do Vinho do Porto, com vista para o Douro, bem ao lado dos jardins do palácio de Cristal. Espaço requintado, onde pode apreciar vários tipos de vinho com direito a vista panorâmica sobre o rio, desde as caves até à Ponte da Arrábida.
Se preferir, mais animação a direcção certa é o Cais de Gaia, na margem sul do Douro. Há várias caves por onde escolher. A Calém, logo após a Ponte D. Luís, a Offley Forrester e a Taylor’s, na Rua do Choupelo ou a Ferreira e a Ramos Pinto, só para citar algumas das que incluem visitas guiadas, provas de vinho grátis ou sessões de degustação orientadas por experientes enólogos. Um bom pretexto para se deixar ficar na margem esquerda do rio é a esplanada da Sandeman, com vista de luxo para a Ribeira e a centenária ponte. Ali ao pé, está também a Kopke, marca com 360 anos de história, que alberga na fachada a inscrição “the oldest port wine”. Entre e descubra a vasta gama de vinhos ali expostos. Há vintage 1978 mas também a hipótese de, no primeiro piso, experimentar um cálice de Porto ou até saborear um chocolate artesanal da Arcádia, ali à venda.
Andreia Fernandes Silva 2009-11-04