Não se chegue com pressa, não combina com o nome do sítio nem com a vontade do dono. Ele, que trocou a agitação de Lisboa pela tranquilidade da Aldeia Velha, quer clientes que se deixem ficar, bebam um copo, dêem dois dedos de conversa, que se tornem da casa. Quem sabe também sejam conquistados pela vontade de mudar de vida e saiam a matutar na ideia de largar tudo em nome do tempo. Do tempo para usufruir das coisas boas.
Na estrada nacional que serpenteia ao longo da costa vicentina, poucos quilómetros a norte de Aljezur, o amarelo forte da casinha tradicional chama a atenção, mesmo que não se venha à sua procura. E todos os pretextos são válidos para entrar: uma bebida, um petisco, ou uma refeição com tudo a que se tem direito. Gostos não se discutem, mas seria quase sacrílego não saborear o que sai desta costa generosa. Sargo, pargo, polvo, lulas, choquinhos… depende do dia, mas têm sempre como garantia serem apanhados por pescadores locais ou pelo próprio dono, também ele iniciado nas artes da pesca. São servidos em receitas simples que valorizam o sabor original, acompanhados pelas “batatas do Sr. Domingos”, cujo sabor mostra bem não se tratar de um mero preciosismo da ementa. A carne, essa, vem quase toda do outro lado do Atlântico, que os cozinheiros preferem picanha e bifes argentinos, além do entrecosto de porco preto. Os molhos que os acompanham viajam por outras paragens, do queijo roquefort ao whisky, denunciando inspirações variadas.
Também nas entradas, se cruzam influências: Queijo de cabra gratinado com mel e nozes; Queijo de cabra gratinado com doce de framboesa; Cogumelos recheados; beringelas chill out grill (extrapicante); Beringelas gratinadas com pesto e mozarela; ou Carpaccio de salmão fumado. A cozinha está nas mãos de Miguel Ferro e Dora Gonçalves, numa daquelas voltas improváveis do destino. Ele que durante 10 anos foi DJ, fartou-se da noite e da vida citadina de Lisboa e encontrou neste Algarve o pouso ideal para partilhar com a namorada. Não se pense que a música ficou arredada, continua a ter um lugar privilegiado nas suas andanças, temperando quase sempre com ritmos tranquilos a atmosfera do Chill Out. Até se pode ter direito a banda-sonora personalizada que a alma de DJ continua bem viva.
Alda Rocha 2009-11-12
