Em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede, um retiro rústico moderno que conduz a montanhas verdejantes, vilas medievais e gastronomia de eleição. E é um saltinho até à fronteira.
Durante séculos a fortaleza de Marvão conteve o impulso castelhano, mas ao alcançar a Quinta da Atalaia estamos mais perto de Cáceres do que de Lisboa e a fronteira imposta pelo rio Sever dista apenas 12 quilómetros. O destino, ideal para férias no campo e escapadinhas de fim-de-semana, revela-nos um Alentejo montanhoso e verdejante, com invernos de neve e primaveras luminosas.
Chegamos de noite à freguesia de São Salvador da Aramenha, mais perto do dia seguinte do que deste que está prestes a sumir-se. A muralha medieval de Marvão permanece visível, iluminada na escuridão, a 800 metros de altitude. Cá em baixo, no vale, quase não se dá pelo acesso à Casa do Meio – um estreito caminho em terra batida, perpendicular à estrada nacional 246-1, que liga Castelo de Vide a Espanha. É preciso ir atento, à direita, logo após o parque de merendas e a placa indicativa de Escusa.
Um tom de refúgio
Baptizada por uma neta dos actuais proprietários, a Casa do Meio apresenta-se justamente no centro da Quinta da Atalaia, entre duas outras habitações, cercada por 13 hectares de oliveiras, castanheiros, aveleiras e pinheiros, sobreiros, cedros e carvalhos. Aqui continua aqui a extrair-se azeite, cortiça, castanhas e avelãs, entre outros produtos, preservando a tradição da principal actividade económica na região, a agricultura.
São, na verdade, duas casas independentes. A de baixo tem dois quartos; a de cima oferece três, além de cozinha e sala mais espaçosas. Ambas se revelam acolhedoras, sugerindo uma sensação de refúgio logo à chegada, fruto da decoração bem sucedida e do amplo uso das madeiras no mobiliário, pavimentos e tectos. O estilo é rústico moderno, sobrevivendo por ali vários candeeiros a óleo, entre outras preciosidades. E há rede para os que já não respiram sem telemóvel nem internet.
Nos próximos dias vamos aproveitar o esconderijo e fugir do frio entre quatro paredes, almofadões no chão e livros antigos, recebendo com agrado o calor da fogueira na salamandra. Conversas madrugada dentro, recordações musicais da excêntrica década de 80.
A raiz da Casa do Meio tem mais de cem anos. Era a antiga habitação dos rendeiros, que o avanço do tempo deixou sem inquilinos e sujeita ao abandono. Até que em 2003 a família do médico João Mouro se lançou na recuperação do imóvel, com a intenção de convertê-lo em alojamento turístico.
Cláudio Garcia 2010-02-08