Carnes

Minho - Roteiro de Sabores

O porco, tal como sucede um pouco por todo o país, é um animal fundamental na alimentação minhota. Fresco, da salgadeira ou do fumeiro é omnipresente e tudo se aproveita. Com a fressura ou colada, por exemplo, confecciona-se uma excelente cabidela em Viana. Mas a coroa de glória são os sarrabulhos, uma espécie de guisado ligado com sangue, que é presença obrigatória no dia da matança. Não deixe de provar as célebres papas de sarrabulho, que por aqui levam milho (na forma de farinha peneirada) e, se forem a preceito, acompanham-nas o fígado, os bofes, a goela e o coração do porco, galinha gorda e carne de vaca. Como é natural, as receitas variam de terra para terra e, em alguns locais, substitui-se a farinha de milho por miolo de regueifa ou usam-se os miúdos do cabrito. Servem-se em tigelas e polvilham-se com cominhos, tempero fundamental neste manjar minhoto que muitos consideram o expoente da cozinha nortenha. Em dias de feira era prato obrigatório nas tascas, tal como o arroz de sarrabulho servido com rojões ou rodeado de costeletas e de tiras de morcela, como conta o conde de Aurora no seu romance O Pinto. Em alguns sítios faz-se um prato semelhante, a sarrabulhada, que além da exótica especiaria leva um pouco de mel.

Ainda que menos famoso do que o do vizinho transmontano, o fumeiro minhoto conta também com os seus presuntos e chouriços. Nos enchidos, os mais apreciados são as chouriças de verdes (feita com carnes não curadas) e as belouras (farinhatos, piloucos, bicas ou bolachos), tripas feitas com três variedades de farinha (trigo, centeio e milho) e sangue de porco, que se consomem cortadas em rodelas e fritas, tal e qual, ou a acompanhar os rojões. Registe-se ainda o salpicão de sabor inconfundível porque temperado com vinho verde tinto ou aquele outro, agridoce, com laranja. O presunto, misturado em picado com vaca, dá o sabor aos famosos folhados de Braga conhecidos por frigideiras, divinas segundo Júlio Dinis e que têm os seus lugares de culto na cidade. Tradicionalmente utilizava-se o sebo dos rins na preparação da massa folhada, hoje substituído por margarina.

As partes mais nobres do porco são utilizadas em assados e nos justamente célebres rojões. Sejam o lombo, a perna ou as costeletas, os assados ganham aqui um sabor distinto graças à marinada de vinho verde (tinto ou branco, consoante a receita e a terra) em que amaciam antes de serem cozinhados. Quanto aos rojões, esta é a sua pátria, onde são servidos com batatas cozidas e depois alouradas ou com arroz de sarrabulho; na variante mais rica vêm acompanhados de belouras, tripas enfarinhadas, chouriço de verde e fígado de porco.

Sobretudo no Alto Minho, e em particular junto à serra do Gerês, o cabrito era uma das iguarias dos dias de festa: assado, em vinha de alhos ou recheado com miúdos, tem justa fama o cabrito montês à moda do Gerês e o dos montes de Padronelo. A vitela e o frango estavam também reservados para ocasiões especiais, excepto nas casas solarengas. A maneira mais comum de preparar a primeira era sob a forma de assado. Quanto ao frango - privilégio dos doentes e da mulher no dia do parto e presença obrigatória nos almoços de casamento – era servido sob a forma de arroz do dito, malandrinho ou seco.

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