Barrocal, o Algarve desconhecido.

Andando alguns quilómetros para norte de Loulé, o Algarve fica diferente, mais genuíno. Siga-se então, de carro até às aldeias onde se come barato e bem, e depois a pé, por entre ribeiras e montes, descobrindo a Rocha da Pena e a Fonte Benémola, as jóias da coroa do Barrocal.

No início de Agosto, as copas das árvores exibem um verde vivo, invulgar na região. Por entre as colinas, a ribeira da Fonte Menalva atravessa o vale, ladeada por um espesso matagal de silvas, canas, choupos e oliveiras. A meio do matagal forma-se a Fonte Benémola, uma nascente natural que se junta à ribeira, um autêntico oásis no meio do árido Barrocal Algarvio. Este olho de água, que durante muito tempo serviu as gentes da terra, bonito e sedutor, em estado quase selvagem, é perfeito para namorar. Paixões à parte, é a andar a pé que melhor se conhece este sítio classificado. Ao todo são cinco quilómetros que contornam a ribeira, num caminho de terra batida onde se vêem alguns mochos, rouxinóis e abelharucos e também onde por vezes os mosquitos fazem as suas picardias. Mais perto da ribeira os batráquios os tritões e também os cágados dão o ar da sua graça. Bicharada, portanto, é o que não falta. Ao longo do percurso tropessa-se no velho forno de cal, no moinho de água semi destruído e nos açudes usados para irrigar os campos. Como recuerdo, pode-se comprar um cesto de cana feito à mão e ficar ao final da tarde com a namorada ou a família. Mas, atenção, no Verão, a melhor altura para visitar é depois das cinco da tarde, quando o sol já não bate tão forte

Rocha da Pena

Um enorme maciço escarpado por onde voam águias e abutres. Com mais de dois quilómetros de comprimento, chega a ter um escarpado com mais de 50 metros de altura. Por isso mesmo, recomenda-se cuidado a quem anda junto à falésia.

De aspecto rude e árido, a Rocha da Pena engana. Apesar do aspecto, tem uma grande variedade de plantas e principalmente de ervas aromáticas, algumas com propriedade terapêuticas. E porque a natureza é sábia, também se encontram morcegos, lebres selvagens e raposas.

Desde os tempos mais remotos que este colosso teve importância defensiva na região. Aliás, ainda se encontram vestígios de amuramentos que datam da idade do ferro. Mais tarde, foram os próprios mouros que se refugiaram no planalto durante a reconquista de D. Afonso III. Por isso é que existe o algar do Mouros.

Visto isto, aproveite para dar uma saltada às aldeias circundantes. A Penina com o seu Portal em arcada e uma chaminé de 1827. Na parte mais oriental, ainda estão dois velhos moinhos de vento, e no vale do Álamo algumas noras antigas. Agora é só calçar um bom par de ténis para andar e partir à descoberta.

Querença

Uma típica aldeia algarvia, com casas brancas, chaminés rendilhadas onde se percebe à primeira as influências da arquitectura árabe.

No largo da Igreja de Nossa Senhora da Assunção o dia vai passando. Ao centro a igreja com o mesmo nome, que de hora a hora vai repicando o sino para lembrar-nos que Cronos (deus do tempo) nos vigia. À esquerda, dois cafés com snooker e matraquilhos à antiga. Estamos mesmo numa aldeia. Turistas? Só à distância.

N'Dalo Rocha 2001-08-08

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