Barbearias de Lisboa

"Entrei no barbeiro no modo do costume, com o prazer de me ser fácil entrar sem constrangimento nas casas conhecidas." Bernardo Soares
As barbearias tiveram sempre um papel crucial na sociabilidade masculina. Ir à barbearia era como ir ao café. Liam-se jornais, sabiam-se as novidades...
Com a falta de tempo este hábito perdeu-se, mas há ainda quem passe lá uma boa parte do dia, como este senhor, na Barbearia Quionga, perto da Rua Morais Soares.
Actualmente muitas barbearias alteraram os letreiros para “cabeleireiros”, como a Barbearia Braga, inaugurada em 1973, que fica a meio caminho entre o Martim Moniz e a Praça da Figueira.
Isto porque “ir fazer a barba” já é raro desde o aparecimento das máquinas eléctricas. Ganha-se tempo mas perde-se um ritual, cujos vestígios permanecem em bancadas tornadas museus...
Cassiano Mourinha é, desde 1953, proprietário da carismática barbearias junto à Igreja de São Domingos. Recebia a maior parte dos actores do Teatro Nacional, como Ruy de Carvalho.
O nome da Barbearia Moderna carrega alguma ironia porque lá dentro o mobiliário ainda é todo de 1952, “mas nós somos muito modernos”, brincam o proprietário e um cliente.
A profissão não é a mais velha do mundo, mas será uma das que conta estórias mais interessantes, desde o fim da barba à especialização no penteado francês, vale a pena ouvir...
A Barbearia Pires & Pinto Ldª, na Rua da Conceição 4, foi fundada em 1945 por Alberto Abrantes, um dos grandes impulsionadores do penteado francês em Lisboa.
Vítor Manuel Ricardo, Barbeiro há 54 anos, ainda se lembra de ter o seu salão, perto da Praça Paiva Couceiro, cheio com os clientes do bairro.
O Sr. Valdemar conta com a ajuda do filho para transformar os seus antigos instrumentos de barbeiro em quadros. Ainda vão à sua barbearia filhos, netos e bisnetos de antigos clientes seus.
Na Barbearia Fraga, na encosta do Castelo, poderíamos ficar durante horas, entretidos a ler os postais de agradecimento vindos dos quatro cantos do mundo.
A Com Arte, na Avenida Almirante Reis, barbearia aberta recentemente, recria o glamour de outros tempos na cidade moderna.
Contra ventos e marés, muitas barbearias ainda resistem. Vale a pena esperar pela abertura de um museu dedicado à profissão – podemos adiantar que vem a caminho. E o que vai ser? O costume?

O costume?

Rita Delille 2009-12-02

Receba as melhores oportunidades no seu e-mail
Registe-se agora