Quem chega, entra vestido. Aparentemente, os Carriços não é um parque diferente dos demais. As condições do camping em geral são boas, as casas de banho muito higiénicas e existe uma quantidade de árvores suficientemente razoável para se encontrar uma sombra. É que o efeito estufa do sol pela manhã é o pior handicap do campismo.
Só há um senão aqui: a dureza do solo. Parece barro seco revestido a titânio endurecido. As estacas de alumínio dobram-se como palhas. É melhor trazer o martelo pneumático de casa para abrir as crateras. E só para complicar, a zona naturista está situada na parte mais alta e ventosa. E já lá vamos.
Pelo caminho, placas de advertência com bonecos pintados explicam que se aproxima de uma zona naturista. Por isso só um aviso a quem nunca frequentou um camping assim: Dispa-se só depois das placas, não vá ferir susceptibilidades alheias.
Quando lá chegar, não se assuste se ao primeiro olhar não vir ninguém nu. Não se enganou, ao fim da tarde começa a correr uma leve aragem que se transforma num ciclone durante a noite e até o nudista mais empedernido se tapa nessas alturas.
Bom, mas o melhor é explicar o que isto é. Andar nu. Tal e qual como viemos parar ao mundo, com liberdade eterna, exposição total. Sem pudor ou ardor por causa do sol, que queima as partes mais sensíveis do corpo, desabituadas ao poder da fotossíntese. O naturismo, também chamado de nudismo, é cada vez mais frequente e tolerado em Portugal. Percebendo essa tendência, Andrea Woudenberg e o marido decidiram criar, há nove anos, uma zona naturista no parque de campismo dos Carriços, no Algarve. E cá estamos.
Começar
Depois da tempestade vem a bonança, e após uma noite de luta constante contra o vento, é bom voltar a sentir o calor do sol.
Aproveitando o bom tempo matinal, os primeiros vizinhos naturistas tomam o pequeno almoço em frente às tendas e vão arrumando os sacos para a praia.
Na casa de banho comum, homens e mulheres partilham o mesmo espaço sem qualquer restrição. Logo pela manhã, dois casais discutem onde irão almoçar enquanto uns lavam os dentes e outros fazem a barba.
Ainda que seja uma zona naturista, não é condição sine qua non estar despido para permanecer na área. Contudo, é preciso respeitar e não incomodar os demais; assim sendo: vouyers abstenham-se da tentação.
O restaurante é agradável, tem uma cozinha variada mas encontra-se na parte não naturista. Por isso, não se esqueça de levar a indumentária.
Tomar banho
Acampar pode ser bom para quem goste de natureza, mas vir ao Algarve no pico do Verão sem ir à praia é criminoso.
A praia do Zavial, a cerca de 15 minutos dos Carriços é um bom local para se dar umas braçadas. Incrustada numa enseada rodeada por penhascos é parcialmente naturista. Quem chega, não se apercebe, mas do lado esquerdo, atrás de uma fileira de rochas baixas, um grupo de nudistas convive amistosamente com vestidos no areal. A água é muito limpa mas fria, sofrendo as influências das fortes correntes do Cabo de São Vicente.
Para animar mais o dia, há sempre o Zavial, um restaurante com esplanada onde se almoça até às 17:00.
Se for friorento, ande mais uns quilómetros para oriente (direcção Lagos) até à praia das Furnas, onde a temperatura deve ter aumentado um grau. Esta é mais uma para juntar ao roteiro onde os fatos de banho não são propriamente uma peça de roupa necessária.
Detalhes
Embora a maioria dos naturistas sejam oriundos dos países nórdicos, existem também alguns portugueses, em clara minoria. Não fosse este negócio banal na Escandinávia ou na Holanda, onde o nicho de mercado do naturismo é explorado já a alguns anos. Em Portugal também existem praias como o Meco e a Fonte da Telha onde se pratica naturismo há mais de 30 anos, mas só em 1994 é que a legislação reconheceu o direito a fazê-lo, ainda que algumas praias continuem a não ser reconhecidas oficialmente.
N'Dalo Rocha 2001-08-15