A nova A23

Natal à vista e já se atravessa a Beira de auto-estrada, sem portagens. O verdadeiro presente no sapatinho.

De Torres Novas à Guarda em 5ª

Já dizia o meu avô, “Bom é aquilo que nos dão”. Filosofia forreta, mas agora que tanto se fala do aumento das portagens e combustíveis a partir de Janeiro, é uma verdadeira benção puder conduzir cerca de 220 quilómetros em auto-estrada sem ter que pagar um cêntimo a mais.

O espírito do “aproveita enquanto o Braga é tesoureiro” impera para visitar cidades e vilas como Castelo Branco, Mação, Sardoal, Abrantes, Covilhã, Alpedrinha ou Guarda. Quem é que não tem amigos ou parentes por estas bandas? Quase toda a gente e com as férias do Natal à porta não faltam dias nem pretextos para lá ir.

Se não houver visitas familiares a cumprir, há todo um conjunto de excelentes motivos de passeio. A começar pela grande concentração de Aldeias Históricas, como Castelo Novo, Idanha-a-Velha e Monsanto, em terras da Beira Baixa, Sortelha, Linhares, Castelo Mendo ou Almeida, já na Beira Alta. A renovada estância de ski da Serra da Estrela ou o Parque Arqueológico do Côa são outras atracções beirãs que estão agora bem mais próximas, graças a esta nova via, a A23.


Curvas apertadas

A viagem começa perto do quilómetro 98 da “velhinha” A1 e como vim de Lisboa, não tive alternativa senão pagar portagem, cerca de 4,6€.

Os primeiros quilómetros fazem-se bem, apesar de apresentarem algumas curvas apertadas ou entradas e saídas curtas, revelando pouca segurança. A maioria do percurso não é sinuoso e há rectas longas onde vou namoriscando a paisagem e sempre que me é permitido também o Tejo, tão diferente de Lisboa.

Torres Novas já ficou para trás e a espectacular albufeira da Barragem de Castelo de Bode também. Não custa nada ir a Vale Manso e Martinchel, onde se encontra um dos centros náuticos da zona.

Passo pela saída que me leva a Tancos e também ao ex-libris de Vila Nova da Barquinha, o Castelo de Almourol. São cerca de 10 minutos de condução até à beira rio, para descobrir o castelo prostrado na ilha e também um velho pescador que nos aguarda no seu bote, a troco de uma ajuda.

Volto à auto-estrada e prossigo no sentido Abrantes. E até aqui, reforcei ainda mais a ideia de que a segurança poderia ser melhor. Até a “velha” A1 exige menos concentração.

Um cenário triste

Ao passar pelo nó das Mouriscas reparo na gigantesca central termo-eléctrica do Pêgo, alimentada pelos pesados comboios de carvão que vêm de Sines. Vejo um que passa sobre a elegante ponte sobre o Tejo.

A partir de agora, a A23 transforma-se numa auto-estrada a sério. Curvas com raios decentes, traçado bem definido, o piso mais consistente, boa sinalização e as vias de aceleração das entradas e saídas dos nós com comprimentos adequados para se conduzir em segurança. Agora sim, posso chamar com toda a propriedade a esta via A23. A diferença abrupta explica-se porque este troço que me leva até Castelo Branco é o mais recente de todos, contando apenas com poucos meses de vida. Prossigo. Esta região é um pouco mais árida e o Tejo corre escondido pelos montes alguns quilómetros a sul. E para norte vejo as placas que me indicam Sardoal e Vila do Rei, o centro geodésico de Portugal, a pouca distância dali. Continuando, deparo-me com um espectáculo triste. Milhares de hectares de mata queimada onde as manchas castanhas parecem infinitas. Sigo uma mancha com vários quilómetros de frente que a dada altura simplesmente salta a auto-estrada e bermas para continuar a sua fúria destruidora do outro lado. Um Verão para esquecer, especialmente para os habitantes dos concelhos de Proença-a-Nova, Mação e Sardoal.

N'Dalo Rocha 2003-12-16

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