Ainda em Rio Maior
Tome-se como referência Rio Maior para se iniciar um belo passeio à procura de silos e fornos medievais, vilas romanas e a paisagem desarmante da Serra de Candeeiros.
Logo em Rio Maior, o monumento mais emblemático é sem dúvida a magnífica vila Romana, casa de um antigo senhor que escoava os seus produtos para Santarém e as povoações em redor. Infelizmente, da vila propriamente dita, não restam muitas construções, ainda que o mesmo não se poderá dizer do magnífico mosaico, que apesar dos cerca de 2000 anos não perderam nem a forma nem a cor. Para os preservar das intempéries do tempo ou dos amigos do alheio, quiseram os arqueólogos edificar um pavilhão de aproximadamente meio hectar.
Ao entrarmos, pouco vemos, até que o arqueólogo de serviço vai molhando o chão com um pulverizador de água, que nos revela as cores e desenhos feitos pelos romanos. A visita não demora muito tempo e de facto merece a pena.
Findo o momento, partimos para as Alcobertas, seguindo pela N 361 para Alcanena, e mais tarde desviamos para a serra. Basta ter atenção às placas, sem descurar a bonita paisagem de vales verdes, hortas com gente do campo e pequenas casas de pedra.
O forno medieval
Chegando à aldeia, primeiro convém passar pela junta de freguesia e pedir para visitar o forno medieval.
Não longe dali, encontramos uma espécie de grelha comunitária, onde há séculos atrás as pessoas da aldeia se serviam para cozer peças de cerâmica, telhas e outros utensílios.
Este forno de forma quadrangular, com cerca de metro e meio de lado, tem o princípio teórico de qualquer forno de pão, ainda que na prática funcionasse de modo ligeiramente diferente. É que sendo o objectivo cozer barro, as peças eram colocadas numa espécie de suporte e a lenha que ardia, estava precisamente em baixo dessa grelha. O tecto era tapado com telhas e pedras, para ser desfeito após ter terminado a cozedura, de modo a retirar as peças. Engenhoso, mas funcional.
Pensam os arqueólogos que, sendo este um forno comunitário, só funcionava quando havia a necessidade de fabricar potes ou telhas para os habitantes da aldeia.
Hoje, está tudo arranjado e foi construída uma simpática casa que o envolve, onde através dos painéis informativos é fácil perceber como funcionava. Esta relíquia foi descoberta já em ruínas na década de 50, quando se procedia à terraplanagem dos terrenos para a construção de uma fábrica de cerâmica. No início, ainda se ponderou a hipótese de ser outra obra concebida pelos romanos, hipótese que rapidamente se afastou após o teste de carbono 14. Afinal, é mesmo medieval.
Os silos das Alcobertas
Outras das obras mais intrigantes são as dezenas de silos que se descobriram nuns terrenos próximos do forno. Nada têm a ver com os enormes silos de cereais que observamos por exemplo no Alentejo. Não, estes são silo medievais, escavados na rocha. Buracos que na forma interior não diferem muito de uma enorme talha. À superfície, circunferências irregulares com cerca de um metro de diâmetro, porém os maiores atingem quase dois metros de profundidade. Alguns têm o fundo plano e outro semi-circular, ideais para conservar cereais. Crê-se que quando estavam cheios, eram cobertos por uma tampa de calcário tapada com barro, que isolava completamente a colheita da entrada de água, animais ou humidade.
N'Dalo Rocha 2003-07-29