Partida
As regras são as mesmas dos karts de pista. Os dez minutos da praxe para se habituar à pista servem também de classificação para a grelha de partida. Como a partir do quinto minuto não se sabe ao certo quando é que começa a contar, a tendência é dar o melhor. Mesmo no treino, o pé vai sempre a fundo no acelerador. O ship instalado nos carros, chamado de transponder, trata da qualificação e nós só temos que nos dedicar à corrida.
À primeira volta todos sentem a dureza do terreno. Ah pois, estes karts não correm em pista alcatroada e lisa. Aqui sente-se literalmente o piso, mas em contrapartida, exercita-se muito mais a condução. Velocidade e curvas feitas sempre da mesma maneira não funcionam como segredo para alcançar o pódio e, contar com a estabilidade do terreno, nem pensar até porque após algumas passagens, estes carros como que lavram a terra, cavando alguns buracos. Escudado será referir a nuvem de pó que se levanta… por isso fechar a viseira do capacete pode fazer a diferença, principalmente quando se vai colado a um colega, pronto para o ultrapassar. Seria um grande descuido deixar de ver quando se pretende subir na tabela qualificativa.
Nas curvas o carro parece fugir-nos, porém nada de travar, quanto muito deixa-se de acelerar, daí que os pés tenham que estar muito bem coordenados. Mas nestas coisas não há regras, pois caso contrário seríamos todos vencedores. O que há é confiança e experiência e essa vai-se conquistando, volta a volta, prova a prova. Nas próximas curvas o pé não descola do pedal e é o volante que tem o trabalho todo. Salvo seja, as mãos. Daí que não seja muito difícil ouvir no final da prova que “aqui dá para ver quem tem mãozinhas”, até porque são elas as grandes mestras neste tipo de corrida.
Passado o tempo estipulado para cada participante, troca-se de condutor. Os reflexos estão agora mais frescos e as costas do colega agradecem. É que conduzir durante mais de 15 minutos um carro destes pode fazer com que as costas reclamem um bom colchão ortopédico para passar a noite. Dureza no terreno e dureza nas bakês, ou então dureza na pontuação, mas essa já é outra conversa.
Depois das corridas, o terreno é terraplenado por um cilindro. Todavia, dura pouco tempo assim, ainda para mais com a chuva que tem caído, o que só vem aumentar o grau de dificuldade. Para os apreciadores do todo-o-terreno estão criadas as condições mais do que necessárias. Com chuva ou sem ela, o crossódromo não fecha.
Chegada
Percorridas todas as etapas, com semi-final e final incluídas quando há participantes para tal, distribuem-se os troféus. Há pódio e tudo. Quem tem mau perder se calhar nem vai querer ver o relatório com as classificações finais e de volta a volta. Até porque as comparações podem colocar em mó de baixo a auto-estima de muito boa gente… O melhor tempo alguma vez batido nesta pista é de 58 segundos para percorrer os 920 metros de faixa de rodagem. Parece muito, mas garantimos que igualar não é fácil.
Para lá chegar só com muito treino, o que significa muitas visitas ao crossódromo. Se for daqueles que até se porta bem e tem dado provas disso, (vulgo cliente habitual com um certo número de voltas), existe um cartão que oferece a possibilidade de alugar o verdadeiro troféu da casa: um kart com mudanças, utilizado apenas para experimentação. São 105 cavalos a puxar, contra os 22 dos kartcross normais com os quais nos iniciámos. Um mimo para adoçar a boca. Mas só para os que mesmo com cara de miúdos já são muito, mas mesmo muito rodados.
Paula Oliveira Silva 2002-12-30