Teatro Nacional de São Carlos

Implantado em pleno coração do centro histórico do Chiado, o Teatro Nacional de São Carlos é um edifício de planta longitudinal e com cobertura diferenciada. A fachada principal apresenta a varanda avançada sobre a arcaria formando um pórtico ao nível térreo, todo em silharia. O remate do edifício é feito pelo terceiro piso mais estreito que os inferiores e sobrepujado por dois pináculos e um brasão. Construído nos finais do século XVIII em apenas seis meses. É um exemplar da arquitectura civil pública, neoclássica, e recebeu algumas influências de inspiração italiana, designadamente do Teatro di San Carlo e do Teatro dela Scalla de Milão. Merece referir a participação de vários artistas nacionais e estrangeiros na decoração do interior do teatro, nomeadamente Cirilo Volkmark Machado, Appianni e Manuel da Costa.

Arquitecto: José da Costa e Silva
Classificação: Considerado Monumento Nacional pelo Dec. nº 2/96, DR 56 de 6 Março 1996
Data de construção: 1792
Estilo arquitectónico: Arquitectura civil pública, neoclássica
Morada: Largo de São Carlos 17 - 23
Código Postal: 1200 410 LISBOA
Tel: 213253000
E-mail: geral@saocarlos.pt
Site: www.saocarlos.pt
Distrito: Lisboa
Concelho: Lisboa
Freguesia: Mártires

Teatro Nacional de São Carlos – Lisboa


O outro lado da casa da ópera


Nelson Jerónimo Rodrigues

O único teatro português dedicado à criação e apresentação de ópera abre as portas aos visitantes para dar a conhecer os cantos e recantos desta sala cheia de história e de estórias. Quase 220 anos de vida revelados numa visita de 60 minutos por camarins, áreas técnicas e zonas nobres, sem esquecer a tribuna real e, claro, o palco. No final vai sentir-se uma Aida ou um Rigoletto.

Não foi fácil convencer a família real a aprovar a construção do São Carlos. Apesar do terramoto de 1755 ter deixado Lisboa sem um palco de ópera à altura da cidade, o aval do príncipe régio só chegou em 1792. Agradeça-se ao intendente Pina Manique, homem de confiança do marquês de Pombal, que recorreu a todos os argumentos para dar início ao projeto, desde a utilização das receitas em obras de caridade à visita a Portugal da princesa Carlota Joaquina (mulher do futuro D. João VI), a quem o teatro seria dedicado.

Em menos de seis meses construiu-se o edifício, assinado pelo arquiteto português José da Costa e Silva mas claramente inspirado no Scala de Milão (fachada). A inauguração aconteceu em junho de 1793 com a presença da rainha D. Maria e do resto da corte, que assistiu deslumbrada à ópera La Ballerina Amante, de Domenico Cimarosa, e ao bailado A Felicidade Lusitana, de Caetano Gioia.

De lá para cá passaram pelo palco centenas de óperas. Coralistas, solistas, músicos e encenadores foram muitas vezes aplaudidos de pé mas poucos se lembraram de quem estava por detrás das cortinas, como maquinistas, costureiras, contra-regras ou outros técnicos. É precisamente esse mundo desconhecido que se revela nas visitas guiadas ao Teatro São Carlos, realizadas mediante reserva prévia. E assim, por apenas 5 euros (2 euros para estudantes), ficamos a conhecer os bastidores do único teatro lírico português.

Da luz das velas às luzes da ribalta

Maria Gil, a nossa anfitriã, lembra-nos desde logo que todas as visitas são diferentes. Cada uma é adaptada não só às caraterísticas dos participantes (idade, conhecimentos, curiosidade…) mas também à disponibilidade dos espaços que, por vezes, estão a ser utilizados. Feito o preâmbulo, começamos por descobrir as salas da carpintaria, adereços e cenografia, onde em tempos se pintavam os telões que depois desciam para o palco por um alçapão. Pelo meio, tempo ainda para espreitar a chaminé do teatro, cuja importância é bem maior do que pensamos. Afinal, quando ainda não havia eletricidade e as óperas decorriam à luz das velas, era por ali que saía o fumo da sala.

Seguimos depois para o armazém de adereços (quase sempre interdito a visitas) que mais parece um baú antigo com milhares de objetos amontoados até ao teto. Réplicas de caravelas, espadas, máscaras, esqueletos e muito mais compõem um imaginário mágico e onírico onde não faltam sequer vários relógios parados, talvez a lembrarem-nos que aqui o tempo tem um ritmo muito próprio.

Mais glamorosos são os camarins dos solistas, autênticos refúgios sagrados das estrelas de ópera, cada qual com as suas superstições e manias. Os italianos, por exemplo, recusam-se a vestir peças de cor lilás, enquanto os espanhóis nem podem ver as amarelas. Já a célebre expressão “muita merda, muita merda” (obrigatória antes da entrada em palco) vem do tempo em que se chegava ao teatro de carruagem, ou seja, quando mais bosta houvesse à porta mais interesse rodeava o espetáculo.

2013-05-16
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