A fama já acompanhava este restaurante quando ainda era uma simples barraca de praia a servir pescado de categoria, agora com a recuperação que foi alvo em 2002, ainda se está melhor. Fiel representante dos chamados restaurantes de praia - com esplanada como compete e zona relvada - por regra, o peixe fresco da vitrina passa pela grelha. As lulas à Evaristo e a sangria branca também são conhecidas por boas razões. E por todos estes motivos, e ao contrário do que geralmente acontece, resulta que a praia ficou conhecida pelo nome do restaurante.
Bar/Sala de espera: Bar e Sala de EsperaO que é que aconteceu aqui? Onde antes estava um barracão comprido — decorado com bom gosto — está agora uma obra de arte da arquitectura moderna, plantada sobre a praia? E quem foi o louco que percebeu que isto assim ia ficar bonito? Seja lá quem for, obrigado.
O caminho para o Evaristo faz-se atravessando o que parece ser a velha entrada de uma quinta. Não há prédios, empreendimentos ou time-sharings à volta. Nem lojas ou gente a correr com baldes e ancinhos. Um sossego. Avança-se então umas centenas de metros alcatroados, entre árvores e arbustos, até chegar lá abaixo, a uma praia recatada, fechada entre aquelas rochas algarvias, amareladas, que parecem prontas a esfarelar-se a qualquer momento.
Para começar pode-se ficar pela esplanada, entre petiscos ou mesmo um gelado, antes de pôr os pés na areia. Depois, porque o calor aqui não costuma perdoar, vai-se atrás dos pés até à areia, que fica a três degraus de distância.
Cadeiras com colchões azuis, chapéus-de-sol azuis — e até uma bandeira azul — separam-nos da água, duas pequenas enseadas com ondas suaves e o mar à temperatura que por aqui é habitual. Pelo areal, mais precisamente um arealzinho, junto às ditas cadeiras com colchões, há alguns jarros de sangria branca. Pelos vistos houve quem tenha resolvido antecipar a refeição, ou apenas tornar a tarde mais agradável. Bem pensado.
Muito antes de se tornar famoso — entre outras coisas, por causa da discoteca do Castelo, ali ao lado — já o Evaristo era muito bom. Há anos que quem conhecia o restaurante fazia os quilómetros que fossem necessários para jantar, de preferência lá fora, sobre a relva, numa daquelas noites quentes como já só o Algarve tem.
Agora, as razões para aqui vir são mais, e melhores ainda. O restaurante oficialmente continua a chamar-se A Barraca do Evaristo. Mas barraca, nem vê-la. Aqui o que há é o que muitos não se importavam que fosse uma casa particular em grande estilo. Tudo branco, o tecto altíssimo, formando um V, janelas enormes a dar para a pequena praia, a ponta de Sagres lá muito ao fundo, e uma esplanada corrida de madeira.
Cá dentro, entre paredes completamente brancas, pendurados sobre o balcão, jarros já cheios de fruta para encher com sangria branca. E ao lado, a inevitável vitrina com peixes à escolha.
Antes de começar a refeição, e em homenagem ao bom gosto generalizado, não parece nada mal sacar de um pequeno charuto e fumá-lo ali, enquanto o dia não acaba, ainda não há quase ninguém nas outras mesas e a música é um jazz simpático.
Depois, para fugir aos eternos sargos, robalos e douradas — os únicos peixes que os portugueses agora parecem conhecer — e respeitando a época, venham salmonetes, por exemplo. E lá vêm eles, com a pele muito bem grelhada e a soltar um pequeno molho que se cola às batatas servidas com casca.
Segue-se uma pausa, para cada prazer ser convenientemente apreciado, a sobremesa, e depois um digestivo, Aqui tem de ser. Tragam-me conhaque, que hoje só me apetecem coisas boas.