Do mesmo dono do restaurante Come Prima, a Casa Nepalesa abre portas na Elias Garcia (ao lado da Gulbenkian) . Uma sala acolhedora e rústica, com atmosfera intimista. Na ementa pratos orientais feitos à base de frango, vegetais, gambas, cabrito e claro as ancestrais especiarias moídas in loco. Salientam-se especialidades como o cabrito estufado com molho de especiarias e borrego com molho de caril tradicional.
Especialidades: Entradas: Pastel de trigo com carne e especiarias; bolinhas de cebola e grão; queijo frito em massa de grão. Vegetarianos: Guisado de lentilhas com gengibre, coentros, óleo de mostarda e especiarias em semente; Puré de beringela assada no forno de carvão com molho de especiarias. Gambas de Moçambique: Gambas cozinhadas com molho caju, tomate, natas e especiarias; Gambas com pimento, tomate, malagueta verde e molho de caril picante. Carne: Franco com coco, natas e aroma de especiarias; borrego com molho de caril tradicional; cabrito com cogumelos frescos e espargos verdes.Nas avenidas novas de Lisboa, a dois passos da Gulbenkian, há um cantinho intimista e surpreendente que nos leva até ao sopé dos Himalaias. Só a gastronomia já vale a “viagem”, mas aos sabores do sul da Ásia juntam-se ainda a simpatia do serviço e o exotismo da decoração. Mais do que refeições, esta casa oferece uma experiência singular com a bênção dos deuses.
De Baglung a Lisboa com escala em Roma. Assim se escreve a história abreviada de Tanka Sopkota, um “nepalês do mundo” que aprendeu os truques da cozinha transalpina em Itália e deu a prová-la em Portugal nos restaurantes Bella Italia e Come Prima. A gastronomia da terra natal também não foi esquecida e depois do Hinchuli de Alcântara abriu outro, em 2010, bem no cento na capital. Chamou-lhe Casa Nepalesa.
Para isso contou com a ajuda do irmão (e sócio) Yogesh (que por sua vez trouxe a mulher Rana) e meia dúzia de empregados conterrâneos. O que se perdeu na comunicação (ainda estão a dar os primeiros passos na língua portuguesa) ganhou-se no ambiente, marcadamente familiar e genuinamente nepalês. E assim, num abrir e fechar de olhos, sentimo-nos a quase nove mil quilómetros de distância.
A viagem até ao país do Himalaias começa logo à entrada, graças a uma porta de madeira trabalhada à mão com imagens de deusas e deuses hindus, como Ganesha, o removedor de obstáculos, ou Laxmi, a deusa da fortuna.
O Nepal em Lisboa
As madeiras escuras voltam a dominar o interior do restaurante, seja no teto, no mobiliário escuro ou nas janelas nepalesas que emolduram as paredes da casa, todas revestidas a pedra. Estas cumprem apenas uma função decorativa porque em todo o espaço só há uma “verdadeira” janela com vista para a rua. Também por isso a luminosidade não abunda mas a ideia é mesmo essa: criar um espaço intimista, tranquilo e levemente místico que nos faz esquecer a azáfama lá de fora.
Entre a decoração destacam-se ainda vários quadros com paisagens do Nepal – os Himalaias não podiam faltar -, e um expositor com 48 tipos de especiarias, ingredientes fundamentais em quase todos os pratos daquela região asiática. A dois passos dali há também uma pequena mesa com guias turísticos e literatura do Nepal que nos dão a conhecer um pouco mais do país que serve de morada ao Monte Evereste, o ponto mais alto do planeta Terra, com 8.848 metros.
Mas se a decoração salta à vista, o que mais prende o olhar é o traje típico dos empregados, sobretudo o feminino (vestido por Rama) que tão bem condiz com a simpatia e o sorriso constante dos empregados.
Roda-viva de pratos
Uma ementa (quase) interminável faz as delícias dos conhecedores da cozinha nepalesa mas pode deixar os novatos um pouco confusos ou indecisos, ainda que todos os pratos tenham uma descrição em português. Se for o seu caso, não há nada como pedir a ajuda dos empregados ou então optar menu de degustação – o Thali Vanchha Ghaa – composto por cinco especialidades diferentes que são uma boa amostra da gastronomia daquela região asiática.
Deste menu para duas pessoas faz parte o cabrito nacional estufado com molho de especiarias; lentilhas em molho de caril; espinafres salteados com sementes de cominhos; estufado de legumes da época com caril; arroz tilda e chutney de tomate. Uma mão cheia de pratos por 30 euros, mas a este valor há que se juntar ainda os vinhos e as entradas, onde se destacam as chamuças, o Momo Ra Chatani (pastel típico de trigo com carne e especiarias) ou a Pyaj Pakaudi (bolinha de cebola e grão). Já para sobremesa vale a pena provar o Khira, espécie de arroz doce caseiro, e o Dughda Malahi, pudim de natas com frutos secos e silvestres.
Para quem tiver um orçamento mais reduzido e menos tempo livre (o menu degustação pode demorar quase meia hora a chegar) também não faltam opções. Pratos de frango, vegetais, cabrito e até grelhados estão entre as propostas que, ao almoço, chegam a descer até aos 12 euros (bebidas e café incluídos).
Sabores autênticos
A maioria dos produtos utilizados são nacionais mas também há outros, como algum arroz e várias especiarias, que chegam diretamente do Nepal. Alguns até se vendem por cá mas os proprietários fazem questão de utilizar os mais autênticos para tornar esta experiência gastronómica tão genuína quanto possível.
E convém não confundir a cozinha nepalesa com a indiana. É certo que são muitos os pontos em comum, mas a primeira diferencia-se pelo uso mais comedido das especiarias (aqui moídas artesanalmente) e dos picantes. O resultado é um equilíbrio de sabores que tem tudo para agradar ao palato dos portugueses.
Em boa hora Tanka Sokota, Yogush e Rama rumaram a Portugal. O Nepal pode estar quase do outro lado do mundo mas os seus sabores, afinal, também se encontram ao virar de uma esquina lisboeta.