Um restaurante clássico e intemporal de Lisboa ganhou nova vida a partir de Janeiro de 2012. O conhecido chefe José Avillez, pouco depois de ter inaugurado na mesma zona da nobre da cidade (Chiado) o Cantinho do Avillez, apresenta um restaurante de topo, onde promete brilhar com as suas mais originais e delirantes criações, em constante mutação e inovação. A conceção e decoração do novo espaço, que integra peças da autoria de jovens criadores, tem a assinatura da arquiteta Ana Anahory e da decoradora Felipa Almeida. Galardoado com duas estrelas Michelin em 2014.
Bar/Sala de espera: Bar e Sala de EsperaDepois de ganhar fama e proveito no Tavares, José Avillez não se acomodou ao estatuto de estrela emergente e procura agora fazer mais e melhor no Belcanto, onde promete transformar “inspirações e inquietações” em alta cozinha. Este antigo clube de cavalheiros manteve a sobriedade e o elitismo do passado mas juntou-lhe um toque de modernidade e uma gastronomia tão criativa quanto poética.
“Somos inconformistas por natureza. Todos os dias queremos aprender e encontrar respostas para as perguntas que nos vão surgindo de forma a evoluirmos e avançarmos.” A frase escrita por José Avillez logo no início do menu é o melhor cartão-de-visita do Belcanto e diz muito sobre a exigência trazida pelo chefe a este restaurante cinquentenário que durante décadas pareceu adormecido à sombra do Largo de São Carlos, em Lisboa.
A localização, em pleno coração do Chiado, não podia ser mais nobre e até a vizinhança serve de estímulo a José Avillez. Não só pela proximidade do Teatro Nacional de São Carlos (daí o nome Belcanto), mas sobretudo porque ali mesmo ao lado fica a casa onde nasceu Fernando Pessoa, o poeta que o chefe mais admira e que sempre lhe trouxe inspiração.
É por isso que o interior do restaurante tem várias referências (mais ou menos subliminares) à obra do escritor, a começar por uma instalação da artista Joana Astolfi (foto ao lado) situada num canto logo à entrada. À primeira vista não parece mais do que uma simples estante de livros antigos, mas se olharmos com atenção conseguimos decifrar a frase “Para ser grande, sê inteiro”. “Não foi por acaso que a escolhi. É um lema escrito por Ricardo Reis que me diz muito” confessa Avillez.
O passado presente
Depois de totalmente remodelado, o Belcanto abriu no início de 2012 e parece ter ganho uma nova vida, desde logo porque a troca de cortinados nas janelas trouxe muito mais luminosidade à sala principal. Os painéis de madeira nobre que forram parte das paredes mantiveram o tom clássico de outrora, mas o restante foi pintado com um rosa pálido que suaviza bastante o espaço e lhe empresta um ambiente ainda mais acolhedor.
Tal como antes continua a haver duas salas. A maior, com capacidade para 50 pessoas, ganhou dois elementos marcantes: um elegante candeeiro que parece flutuar junto ao teto e um grande espelho que dá outra amplitude a esta divisão. Já a outra sala é ideal para fumadores, pequenos grupos (até 25 pessoas) ou para quem procura mais privacidade. É também aqui que fica a garrafeira da casa, com cerca de 280 referências dos quatro cantos do mundo, mas natural prevalência para os néctares nacionais.
As duas salas são unidas por um longo corredor com uma janela rasgada para a cozinha. E que espetáculo ela nos oferece! O corrupio de cozinheiros e assistentes quase parece uma peça de teatro ou uma improvisação de dança, sempre com José Avillez no centro do “palco”. Acredite que vale a pena lá ir espreitar, quanto mais não seja porque também nos mostra que afinal há mesmo cozinhas imaculadamente limpas e organizadas.