Situado junto à Fábrica da vista Alegre, este museu evoca a história da mais prestigiada fábrica portuguesa de porcelana. A colecção é composta por vidros do século XIX e porcelanas. Ilustra a evolução do fabrico de porcelana portuguesa, bem como a história da fábrica e dos seus sucessivos impulsionadores.
Dia(s) de Encerramento: SegundasEmbora esta paisagem não me seja desconhecida, agora que a olho uma vez mais, não consigo deixar de a classificar como uma das mais bonitas do país. A ria separa duas povoações que o homem tratou de unir com a construção de uma ponte ou encurtando caminho graças à ajuda dos moliceiros que embora menos, ainda hoje sulcam estas águas. Não me admira mesmo nada que a fábrica mais antiga de porcelanas em Portugal se tivesse apropriado do nome desta maneira, Vista Alegre. Se ainda o é agora que faria naquela altura, em 1824, quando a fábrica começou a laborar pelas ordens de José Ferreira Pinto Basto.
Origens
Os primeiros anos foram marcados pela produção do vidro e foi a partir de 1830 que se começaram a preparar as pastas para a porcelana, motivada que estava a família pelas visitas de um dos filhos do fundador ao estrangeiro e pela contratação de pessoal especializado. Este esforço valeu um luxo, a autorização do uso das armas reais nas portadas das lojas, concedidas por D. João VI e por D. Miguel.
Há inúmeras histórias associadas à fábrica mas uma que descobri dá-me particular interesse em contá-la. Como as estradas eram inexistentes e as que havia eram de má qualidade, a dada altura a solução encontrada foi a compra de camelos que lentamente conduziam a mercadoria. As reacções não se fizeram esperar e conta-se que nem os padres conseguiam manter os fiéis dentro da igreja aquando da passagem destes animais. Pudera...
A visita à fábrica permite ficar a conhecer etapas como a moldagem e contra-moldagem, a estamparia e a minuciosa oficina de pintura manual, onde cada peça se torna única. Todas as etapas têm o seu interesse, mas esta, talvez por ser a mais artística, tem o dom de nos deixar de boca aberta. Como é que conseguem reproduzir com tanto rigor formas e cores tendo apenas como base uma amostra? É certo que a arte imita a vida mas este realismo detentor de detalhes inimagináveis, atordoa.
Vejo uma peça branca com o rebordo a preto. O guia entendido nos detalhes soluciona o quebra-cabeças, trata-se da cor do ouro quando fresco. Em fases diferentes impressionaram-me os poços com cerca de 2 metros de profundidade que funcionam como stock onde agitadores mexem constantemente na pasta líquida chamada também de lambujem e a entrada das peças para o forno, que se espreitarmos pelas laterais parece um autêntico inferno (as porcelanas têm de ser cozidas duas vezes, uma a 900 graus e a outra a cerca de 1200 graus). Apesar da sua relativa calmaria, fique a saber que a fábrica não pára. São 24 horas non stop. Impressionante.
O polimento manual e o talento de uma senhora que com pequenos pedaços de barro cria as pétalas de flores que vão terminar nalguma peça decorativa. Paciência, sabedoria e arte. É disto que também se fala aqui.
Gente e costumes
Criada a fábrica num lugar à época isolado, o fundador tinha agora outra preocupação, as infra-estruturas sociais. Casas para os trabalhadores, refeitório, creche (que ainda hoje funciona) e colégio, onde para além de ensinar os ofícios inerentes à fabricação, ministrava também a instrução primária e música. Talvez por ser pai de 15 filhos, José Ferreira Pinto Basto, sabia que mães que tenham os filhos por perto trabalham mais descansadas e consequentemente melhor.