Mandado edificar por D. João V em 1711, é o mais sumptuoso convento e monumento barroco português e as peripécias da sua construção inspiraram um dos primeiros sucessos do Nobel das Literatura, José Saramago (Memorial do Convento). É o paradigma do reinado mais rico da história de Portugal, graças ao ouro vindo do Brasil. Foi construído para cumprir a promessa do rei caso tivesse um descendente para ocupar o trono. Reconhece-se alguma inspiração do castelhano convento do Escurial, numa articulação harmoniosa de três componentes distintas: palácio real, convento e igreja. O projecto original é de João Frederico Ludovice, também autor da basílica da Estrela, em Lisboa. O convento foi ocupado pelos Franciscanos que desenvolveram a farmácia e a enfermaria, enquanto que os outros ocupantes deste convento, os Dominicanos desenvolveram a biblioteca. Parte das instalações está ocupada pela Escola Prática de Infantaria, sendo possível visitar, a pedido, esta unidade militar e apreciar os monumentais corredores com centenas de metros dedicados às batalhas de Portugal e onde cabe um camião. Integram este conjunto monumental, o Palácio, o Museu, a Biblioteca conventual e a Tapada.
Dia(s) de Encerramento: TerçasA promessa
“D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria de Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou”.
in Memorial do Convento de José Saramago
Preocupado com a falta de descendência, D. João V prometeu levantar um convento destinado a 13 franciscanos, caso a rainha lhe desse um filho. Nascida a princesa D. Maria Bárbara, o monarca que ficou conhecido como o “Magnânime”, determinou o cumprimento do voto.
As obras começaram em 1717 ainda com o projecto inicial, mas o ouro proveniente do Brasil começava a entrar nos cofres do Estado e logo se iniciaram outros planos mais ambiciosos que não olhavam a despesas. Ficou também estabelecido que o mosteiro teria em anexo um palácio, residência de Verão da família real que serviria ainda para receber a corte e o patriarcado de Lisboa. O traço do monumento ficou a cargo do alemão Frederic Ludovice.
Palácio Real
“Enfim, de tanto se esforçarem todos ficou preparado el-rei, um dos fidalgos rectifica a prega final, outro ajusta o cabeção bordado, já não tarda um minuto que D. João V se encaminhe ao quarto da rainha.”
in Memorial do Convento de José Saramago
Mais de 200 metros tinha que percorrer o rei do torreão sul, para visitar a rainha, cujos aposentos se situavam no torreão norte. A bem da precisão, contam-se 232 metros de janela a janela de cada torre. Visitando os quartos do rei (já que os da rainha se encontram encerrados) fica-se a conhecer o mobiliário e utensílios da altura como os perfumadores, um antepassado dos ambientadores. Curiosa é a casa de banho que conta com uma cómoda-retrete, um escarrador e um urinol, tudo luxos para a época. Banheiras é que não existiam mesmo no ambiente requintado de um paço como este. Frequentes eram também os quartos de vestir para além dos de dormir, que por si só já eram enormes, maior do que muitos apartamentos de agora. Para além de outras salas, os aposentos reais contavam ainda com uma capela cada. As vidas eram levadas praticamente em separado. Assim se passava em Setecentos.
O enorme corredor chamado de “Passeio da Corte” dava acesso à maioria das salas utilizadas pela comitiva real. Toda forrada a mármore, está a Sala da Benção que possui uma tribuna, a partir da qual os soberanos assistiam à missa na Basílica sem saírem do Paço. No exterior, conta ainda com uma varanda feita de pedra única, onde o rei saudava o povo. Outros tempos… A Sala do Trono é um local imperdível para quem quiser ver de perto uma coroa real, ainda que esta seja funerária. De destacar também o magnifico conjunto de frescos que dá a sensação de serem estátuas. Pura ilusão óptica. Impressionante, é sem dúvida a Sala da Caça, que exibe trofeus que não são mais do que animais embalsamados. E o mobiliário foi concebido aproveitando as hastes e as peles dos bichos da Tapada de Mafra. Uma moda austríaca que pegou no seio da realeza portuguesa. À mesa de snooker ou na de bilhar, a jogar ao pião (uma espécie de bowling) ou aos flippers, era assim que se distraiam os nobres na Sala dos Jogos. De monotonia não se podia queixar a realeza.
2003-01-27