A Casa das Obras é um solar setecentista com grande valor arquitectónico e museológico, classificado como Imóvel de Interesse Público. Repleta de pormenores, a casa disponibiliza diversos espaços que nos remetem com bastante frequência para tempos passados. Encontra-se situada em pleno Parque Natural da Serra da Estrela.
Localização: CampoNasceu o dia nublado e chuvoso, o tempo ideal para ficar umas horas a mais no quentinho e no aconchego de um solar de setecentos. Parecendo que não, estas condições atmosféricas são ideais para descansar e descobrir uma casa que tem muito mais para oferecer do que uma cama e um pequeno-almoço caseiro recheado de coisas boas (não indicadas a quem prometeu não cair uma vez mais em tentação). E depois, nesta altura do ano, uns quilitos a mais nem são perceptíveis, dada a quantidade de roupa que envergamos.
Da janela da sala onde se serve a primeira refeição do dia, a serra ganha ainda mais encanto. A bruma que a cerca, enche-a de mistério e formosura. Será que já nevou na Estrela?
O solar que afinal não está em obras
Em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, a Casa das Obras é um autêntico museu particular. Quem a mandou construir, o desembargador da Relação do Porto e Capitão-mor de Manteigas Dr. João Teodoro Saraiva Fragoso de Vasconcelos (ufa!), programou uma casa em grande estilo. A sua determinação foi tal que, para que tudo ficasse a preceito, foram necessários tantos anos que as gentes de Manteigas nunca mais viam a casa terminada. E por isso lhe deram o nome que ainda hoje conserva. Mas sossegue-se que por agora obras é coisa que não há. A última grande remodelação a que foi sujeito o solar foi quando se fez a adaptação a Turismo de Habitação, já lá vão uns anos. Com um especialista em restauros na família (o pai do actual dono) a tarefa ficou facilitada.
Por todo o solar abundam objectos de arte sacra, a maior parte trazidos de uma outra propriedade da família, a lembrar de que nesta linhagem já existiu um bispo. Não se importe de passar uma manhã inteira pela casa pois existem objectos que merecem uma atenção especial. Imagine-se que num álbum de família existe uma imagem que data de 1716. Uma verdadeira relíquia. Por aqui há mesmo muito que ver. Se pensar que há seis gerações que se vem arrecadando objectos consegue perceber a importância do local. Passada esta primeira fase de descoberta do solar, espera-o uma sala de estar com lareira que convida à reunião nas noites mais frias. Mas se não for de estar parado por muito tempo, pode passar pela sala de jogos e pelo bar, num recanto da casa com as paredes nuas a exibirem o granito, e mobilado por sofás de cores alegres que contrastam com o tempo envergonhado que faz lá fora.
Eram umas vezes…
Uma das características dos turismos de habitação é poder confraternizar com a família e descobrir histórias tão engraçadas que nos põem a rir só de imaginar. Uma dessas histórias prende-se com as duas bandas locais, uma da freguesia de São Pedro, e a outra de Santa Maria onde se situa o solar. Conta-se por aqui que estes dois ícones da música da simpática vila de Manteigas, rivais desde sempre, se travaram num duro confronto numa ponte da vila, a coisa foi tal que a ponte se terá desmoronado e homens e instrumentos caíram ao rio, para gáudio dos presentes e tristeza dos encharcados. Agora atenção: se ao cair da noite ouvir uns sons estranhos, digamos que ainda pouco afinados, não desespere, não se trata do fantasma da Estrela mas sim dos aprendizes da banda.
Mais sério foi o episódio da invasão das tropas francesas. Aquando da sua passagem por Manteigas, várias foram as famílias que se refugiaram no solar das obras como se de sua casa se tratasse. Um dos tectos de uma das divisões da casa até ficou completamente escuro devido aos fumos exalados dos cozinhados. Um autêntico acampamento entre quatro paredes. Mas a solidariedade dos serranos está acima de tudo.