Situada na Serra da Aboboreira, a 15 Km de Amarante, a casa de pedra do século XVI, rodeada de espigueiros, castanheiros e moinhos de água proporciona uma panorâmica deslumbrante.
Acessos: Seguir em direcção a Amarante pela IP4, e apanhar a estrada para o Peso da Régua/ Mesão Frio. Seguir sempre em frente, cerca de 10 Km, na direcção da Serra da Aboboreira. Cortar à direita quando vir as placas que dizem "Aldeias preservadas", "Casa da Levada". Seguir a indicação e entrar na aldeia Travanca do Monte. A casa está sinalizada.Cá dentro…
O sol já tinha nascido há bastantes horas, mas as portadas de madeira não o deixavam espreitar. Este quarto, que partilha com a Torre, o mesmo nome, é o feliz detentor de paredes de granito (à vista) com tecto e chão de madeira… Tudo rústico e muito acolhedor. Muito ao de leve, ouvem-se vozes vindas da eira. “Estão a restaurar os espigueiros”, parecia ser a explicação mais lógica. Assim era. Num pulo, saltou-se da cama e correu-se a abrir as janelas. Uma minúscula varanda com dois pequenos bancos em granito é um recanto mais que perfeito para namorar. Talvez, mas ao cair da noite, quando se estiver só e a aldeia permanecer em silêncio.
O pequeno-almoço é servido na sala de refeições. Uma vez mais, paredes de granito à vista e uma lareira que noutros tempos servia também para reunir a família. Hoje, com o advento dos ares condicionados e aquecedores eléctricos já não se perde tempo a olhar para o lume. Uma pena, porque há tradições que fazem muita falta.
Já mais compostos, parte-se à descoberta do resto da casa. Passa-se pela sala de estar e fica-se à conversa com o senhor Luís, o proprietário. Não interessa o tema. Já dizia o poeta que as conversas são como as cerejas… Esgotados os assuntos, prepara-se para o primeiro confronto do dia com os frios ares da serra. Mais uma vista de sonho, mais um recanto que a acompanha: outra varanda, mas desta feita, grande, à nossa medida. Vários artistas inspiraram-se nestas paisagens e alguns dos produtos finais foram oferecidos aos proprietários que os guardam com todo o carinho. São pedaços de vida que se tenta agarrar de alguma forma e nada melhor do que a sensibilidade conjugada com a arte para o conseguir.
Ao lado desta sala, o Quarto do Poeta, o reduto mais privado do poeta Teixeira de Pascoaes, tio avô do senhor Luís. Também ele se serviu do local para escrever. Na cómoda, uma fotografia e um recorte do livro das suas memórias que descreve o local com um realismo que só um “filho” da terra consegue perceber. Este refúgio esconde um alçapão especial. O que contém, não se pode dizer. Um segredo partilhado por quem aqui fica. Depois, o quarto da Eira que, como o nome indica, tem vista para o pátio onde antigamente se malhavam os cereais. Aqui o destaque vai para uma mala de viagem. Normal dirá a maioria. Mas esta não é uma mala qualquer. É do princípio do século passado, e eram precisos dois homens para pegar nela.
O quarto da Varanda fica no primeiro andar. No granito do parapeito, foram recortadas três cruzes, que não se sabe ao certo se são de Cristo ou de família. E é compreensível que assim seja, afinal já passaram por esta casa vários séculos (cinco, no total) e quem a mandou construir já cá não mora. Por isso, contentemo-nos com as suposições. Este aposento poderia perfeitamente ser apelidado de quarto árabe, já que possui um pequeno recanto, ideal para se hospedar a segunda mulher. Na falta desta, um filho poderá ocupar esse espaço vazio. Não é que a companhia seja igual, mas tudo a bem do preenchimento da área livre… Mesmo em baixo, o que equivale a dizer no piso térreo, um pátio muito especial que já serviu para muita coisa, inclusive de salão de baile (ao ar livre). É que esta sempre foi uma aldeia muito alegre e muito respeitosa. Conta-se que os muros desta casa eram um autêntico couto imune à justiça praticada. Bastava colocar lá a mão e já se considerava em segurança. Outros tempos…
2002-05-07