Inaugurado em junho de 2012, está situado no último andar do antigo Mercado do Chão do Loureiro, com vistas de cortar a respiração sobre Lisboa e o Tejo. A Visabeira traz à capital tradição gastronómica beirã, recriada na sua apresentação e com fusão de sabores africanos. Destaque para a esplanada de 300 metros quadrados, mesmo a pedir uma visita ao final da tarde. A decoração ostenta diversos elementos emblemáticos da cultura portuguesa, entre os quais peças de faiança Bordallo Pinheiro, no interior, e, no exterior, dois painéis de azulejos da autoria do artista plástico Paulo Ossião, sendo as refeições servidas em loiça Vista Alegre.
Dia(s) de Encerramento: Não encerraDo alto de Lisboa alcança-se Moçambique
Situado no último piso do antigo Mercado do Chão do Loureiro, este restaurante eleva a fasquia nas vistas, entre as melhores da capital, mas também na gastronomia, que faz a ponte entre as Beiras portuguesas e Moçambique. O Tejo e o Zambeze, Bordalo Pinheiro e Mia Couto, o cabrito e o caril subiram o elevador e encontraram-se todos no céu de Lisboa.
“Como se o rio fosse, ele mesmo, ponte. De um lado e do outro, os mesmos: nós, sonhado haver uma outra margem”. As palavras do escritor Mia Couto recebem os visitantes à entrada do ZamBeZe e servem de prelúdio ao restaurante, ele próprio ponto de encontro entre Portugal e Moçambique. E não apenas em matéria de gastronomia porque as artes dos dois países também se tocam neste espaço inaugurado em 2012, ano em que o sétimo piso do antigo Mercado do Chão do Loureiro (entre o Largo do Caldas e a Costa do Castelo) ganhou nova vida.
Assim acontece, desde logo, junto à frase do escritor moçambicano, onde uma girafa em madeira faz companhia a várias andorinhas e sardinhas em faiança. Apenas uma pequena amostra das muitas peças Bordallo Pinheiro em exposição, ou não pertencesse este restaurante à Visabeira, empresa viseense que detém a emblemática marca das Caldas da Rainha. E assim também se explica a escolha pela fusão entre a cozinha beirã e moçambicana. Mas já lá iremos, porque primeiro vamos conhecer os cantos à casa.
Mirar Lisboa antes de provar Moçambique
Para lá de um átrio em cores terra sobressai o imenso branco que domina a sala principal, dos tetos aos atoalhados, passando pelas colunas redondas que, graças à criatividade do design, acabaram transformadas em árvores estilizadas. Pelo tronco sobem caranguejos em faiança enquanto nos ramos surgem peixes de várias cores em madeira, como se nadassem no cristalino Pacífico ou no tranquilo Zambeze, o maior rio de Moçambique que dá nome à casa. Um surpreendente jogo entre portucalidade e africanidade que se repete pouco depois, junto a uma parede castanha, decorada com andorinhas, flores e crocodilos de artesanato. Mesmo ao lado está a montra de peixe, tão fresco que parece acabado de pescar.
Junto à sala principal fica outra ainda mais soalheira, quase toda envidraçada, onde já se vê uma nesga do casario da capital. Aqui existe um grande painel de azulejos, assinado pelo artista plástico Paulo Ossião, que revela a cidade na mesma perspetiva que se tem ali ao lado, já em pleno terraço. Este é de visita obrigatória, faça chuva ou faça sol, inclusivé para quem preferir almoçar ou jantar no aconchego das salas interiores. Se passar por lá, não deixe também de admirar o outro painel de azulejos que revela um novo olhar do mesmo artista.
Mais do que um terraço, estará num autêntico miradouro com Lisboa aos pés e o Tejo no horizonte, qual postal ilustrado que faz as delícias não só dos clientes do ZamBeZe mas também dos visitantes que utilizam um acesso público para lá chegar. Muitos destes acabam por não resistir à esplanada, seja para tomar uma bebida ou para fazer a refeição. E que depois das vistas de Lisboa, também não é fácil tirar os olhos dos pratos que chegam às mesas. O nosso já vem a caminho.
Dois continentes, tantos sabores
Tal como nas relações, na gastronomia os extremos opostos também se atraem. A prova está na ementa do ZamBeZe, que conseguiu casar a gastronomia das Beiras com os sabores moçambicanos, num encontro promovido pelo chefe João Paulo Varela. Esta união começa por passar despercebida já que as entradas são todas portuguesas – casos dos choquinhos à Bulhão Pato (12€) ou dos ovos mexidos com farinheira e grelos (8€) – mas revela-se pouco depois, nos pratos de peixe. E aqui, tanto encontramos bacalhau em crosta de broa com puré de castanha (20€) e filetes de polvo com arroz de tomate (20€), como caril de caranguejo desfiado (25€) ou camarão tigre à moçambicana (35€; duas unidades).
O mesmo sucede nas carnes, que começa em terras lusas com o cabritinho da Serra da Gralheira (31€, duas pessoas) e a posta de Lafões (22€) e, instantes depois, já está em África graças ao frango à zambeziana (13€) ou ao frango em amendoim (16€). Duas latitudes também nos acompanhamentos, propostos em versão moçambicana – mucapata, matapa xima ou arroz de coco – ou portuguesa – batata frita, migas de alheira ou esparregado. Já as sobremesas (quindim, mousse de chocolate ou pão de ló, por exemplo) são servidas em regime de bufê (6€) e a carta de vinhos apresenta cerca de 100 referências, com destaque para os néctares da Casa da Ínsua, hotel de luxo e quinta agrícola de Penalva do Castelo também pertencente ao grupo Visabeira.
E assim, num abrir e fechar de olhos se chega de Portugal a Moçambique, do Tejo ao Zambeze, do Atlântico ao Índico. Como se, desta vez, fosse a gastronomia, ela mesma, uma ponte.