* ENCERRADO PERMANENTEMENTE *
Referência na restauração algarvia, foi fundado no final dos anos 90. A excelência da cozinha e do serviço, a decoração elegante e sofisticada, o ambiente exclusivo lhe valeram a distinção de estrela Michelin por 26 vezes. Desde fevereiro de 2013 que a cozinha está a cargo do chefe Leonel Pereira (ex-Sheraton Lisboa). Funciona apenas ao jantar.
O céu na boca
Galardoado com a estrela Michelin, este clássico de Vale do Lobo tem um português aos comandos da cozinha: Leonel Pereira. De regresso às origens, o chefe algarvio dá a provar uma experiência gastronómica única que vai do real ao sensorial num abrir e fechar de olhos. Quem disse que os santos da casa não fazem milagres?
Wurger, Rittmeyer, Scultz e Grünbacher, Depois de quatro apelidos tipicamente alemães seguiu-se um Pereira (mais português não podia ser) assinar a carta do São Gabriel. O restaurante, fundado em 1990, manteve-se sempre fiel aos chefes estrangeiros mas a mudança de proprietário, em 2013, ditou uma revolução tranquila que teve como epílogo a aposta numa referência nacional.
Se para o restaurante foi o início de um novo ciclo, já para Leonel Pereira tratou-se de um reaproximar das raízes, ao Algarve que o viu nascer (concelho de Alcoutim) e onde deu os primeiros passos na cozinha. Um regresso pela porta grande que trouxe mais protagonismo aos sabores e produtos nacionais, estrelas maiores de uma cozinha criativa e contemporânea, ainda que assumidamente internacional. Afinal, a maioria dos clientes da casa são estrangeiros.
Embaixador do bom gosto
Até aqueles que conhecem mal a estrada de Vale do Lobo darão facilmente com o São Gabriel. Uma inusitada vaca azul à entrada (em fibra) serve de cartão-de-visita e chamariz ao local, que outrora foi vivenda de férias dos embaixadores dinamarqueses em Portugal. É desse tempo o frondoso jardim que o rodeia, feito de pinheiros seculares, arbustos de grande porte e flores sub-tropicais.
Quem chega a este pequeno éden encontra primeiro outro restaurante – o tailandês Thai Garden – mas meia dúzia de passos depois estará no terraço do São Gabriel. Salpicado pelo branco imaculado das toalhas de linho e pelo brilho de velas, é ideal para as noites quentes do verão e outono algarvios e propicia um ambiente seleto mas mais descontraído, típico desta época do ano.
Já no interior da casa predomina o luxo, o requinte e a sobriedade. No centro da sala principal salta à vista uma enorme lareira mas a cada olhar mais atento descobrimos novos pormenores de elegância e sofisticação. Entre eles destaca-se, por exemplo, uma valiosa coleção de azulejos pintados à mão, um conjunto de olaria portuguesa e várias telas com motivos modernistas ou campestres.
Ria, mar e campo
Se o espaço e a decoração do São Gabriel mantêm o (bom) gosto suíço do anterior proprietário, a nova ementa reflete o carisma e o carater de Leonel Pereira: arrojado, confiante, provocador. É certo que alguns pratos transitam da antiga carta (há clientes de longa data tão fiéis na presença quanto nos pedidos) mas a nova filosofia salta facilmente à vista e, claro, ao paladar. Sobretudo se falarmos no menu de degustação (75€ sem bebidas), a mais suprema das experiências que se pode ter no restaurante.
Esta tentação culinária começa com dois amouses bouches, um mini corneto com brandade de bacalhau e azeitona e o fitoplankton, pequena hóstia retangular coberta com minúsculos camarões de Alcácer do Sal. Ao lado, tem uma caracoleta de plâncton e um tubo (tipo amostra de pasta de dentes) com creme verde de algas. Tudo junto resulta numa explosão de sabores que, garante o chefe, nos fazem descobrir a que sabe verdadeiramente a ria Formosa.
Segue-se depois um carabineiro do Algarve cozinhado em água do mar, gaspacho de pepino, tomate assado e pós de mexilhão desidratado. Gostos não se discutem mas este é provavelmente o prato mais conseguido do menu de degustação, num misto perfeito de estética, criatividade e sabor.
Os apreciadores de peixe também vão gostar de provar os filetes de salmonete ligeiramente corados com aipo caramelizado com limão e laranja e molho de lúcia-lima, enquanto os amantes da carne tão cedo não vão esquecer os lombinhos de vitela com cremoso de batata-doce, curgetes bio grelhadas e molho de alfazema.
Por fim chega-nos à mesa um granizado de champanhe (Laurent Perrier) e tamarilho (tomate japonês) e uma sobremesa que evoca os sabores da tarte de maçã (com geleia de limonada e gelado de arroz). Quanto à carta de vinhos, o São Gabriel conta com mais de 1250 referências, entre néctares nacionais e estrangeiros. Uma diversidade tão grande que serve de pretexto para falar com o escansão Vitor d`Avo e descobrir as melhores harmonizações de cada prato.
Dois dedos de conversa oferece também o chefe que faz questão de passar por todas as mesas para saber a opinião dos clientes. O sorriso e descontração não enganam: Leonel Pereira está confiante e satisfeito com a mudança para o Algarve. Depois dos céus de Lisboa (liderou o restaurante Panorama, no 26º andar do Sheraton) é bom ter os pés bem assentes na terra. Ironia do destino, a(s) estrela(s) assenta(m)-lhe bem.
2013-09-26