Típica casa alentejana, com paredes caiadas e o traço amarelo a colorir a fachada. No interior, calçada portuguesa no chão e meio metro de parede em tijolo perto do tecto. Decorado à moda alentejana, não faltam as mesas corridas nem as grandes talhas de barro. Mas se o ambiente é rústico, interessa esclarecer que alguns apontamentos decorativos fogem a esta tendência, introduzindo alguma originalidade ao espaço e jogando com as expectativas daqueles que por aqui passam. A comida, essa, é regional, do mais tradicional possível (sem espaço para manobras) e as meias doses vêm tão bem servidas que ainda sobra. No capítulo dos vinhos, a selecção é bem cuidada.
Acessos para deficientes: SimFica em Serpa, quase perdido numa rua estreita, aparentemente igual a tantas outras. Parece pequeno mas as aparências enganam. Uma vez transposta a porta, logo à entrada, somos surpreendidos pela sala para grupos. A decoração é simples mas espectacular com gigantescas talhas de barro, com mais de dois metros de altura.
Não é difícil perceber que há 60 anos este local era uma adega de vinho e que as talhas serviam precisamente para armazenar tão precioso líquido. Os trabalhadores rurais deixavam os seus carros de bois nas estrebarias e após os longos dias de trabalho ali iam matar a sede.
No total, o restaurante tem três salas: a primeira, a das talhas, ideal para grupos pelo espaço e disposição das mesas; a segunda, mais reservada e pequena, e o salão principal, onde o proprietário se reúne com os seus amigos. Sem exagero, dá para dizer que meia Serpa por lá pára. Bebe-se bom vinho, comem-se petiscos, e sobretudo, há fados e guitarradas.
Uma tertúlia de amigos, na verdadeira acepção da palavra. À roda da mesa passam músicos amadores e profissionais que não hesitam em dar o seu contributo, porém nada mais é cobrado aos clientes.
Defensor acérrimo do concelho de Serpa, desde que assumiu o MolhóBico há cerca de oito anos, o proprietário dá primazia aos produtos da terra. Ali só se serve porco alentejano, ou melhor, pata negra. E com excepção do bacalhau, desde o feijão, ao grão, ao azeite, dos ovos ao vinho, apenas produtos regionais de Serpa, se servem naquela casa.
No que respeita aos pratos propriamente ditos, a carta está recheada de saborosos petiscos de fazer crescer a água na boca. É quase um crime vir cá e não experimentar qualquer um dos pratos de porco preto, por exemplo. São as plumas, os secretos e as migas com carne de porco. Mas há mais, como por exemplo os pratos de borrego, tais como a caldeirada ou o ensopado, para além do bacalhau espiritual, do caldo de cação ou das pataniscas de bacalhau. Para a sobremesa, tarte de requeijão ou então uma mais convencional sericaia.
Resumindo, boa comida e muita alegria num ambiente simpático e acolhedor, onde o cliente está à vontade e a comida justifica perfeitamente o preço médio de cerca de 13 euros. Quase nem dá para acreditar.
REPORTAGEM ACTUALIZADA EM NOVEMBRO 2009
2004-08-17