A serra da Gardunha, palavra árabe que significa refúgio, fica localizada na Beira Baixa, entre os rios Pônsul e Zêzere, paralela à serra do Açor. Com uma altura máxima de 1227 metros, pertence ao Maciço Antigo de Entre Douro e Tejo, estando integrada na zona ocidental do Sistema Central Ibérico. Tem 20 quilómetros de comprimento e 10 quilómetros de largura, delimitando a fronteira com o vizinho concelho de Castelo Branco. Na capela de São Macário, situada no alto da serra, realiza-se anualmente uma concorrida romaria religiosa.
Altitude (m): 1227Entre aldeias no aconchego da serra
Na Gardunha as aldeias são como as cerejas. Depois de uma vem outra, logo a seguir mais uma e, entretanto, já outra espreita lá no alto. Um só dia não chega para descobri-las todas por isso escolhemos três das povoações mais emblemáticas: Alcaide, Alpedrinha (vila) e Castelo Novo.
O nosso passeio começa por Alcaide, situada em plena encosta norte da Gardunha. Quem vem da autoestrada (A23) deve sair em Fundão sul e 15 minutos depois (quase sempre a subir) chegará à aldeia. Antes disso vale a pena fazer um desvio até ao Monte de São Macário, rodeado de pinhais e pomares de cerejas, que aqui se produzem em grandes quantidades graças ao micro clima (invernos rigorosos e verões quentes) desta serra.
Além de miradouro privilegiado para as serras da Gardunha e da Estrela, o local serve também de refúgio à capela de São Macário, onde todos os anos (3º domingo depois da Páscoa) termina a mais importante procissão da terra. Mais concorrido só mesmo o Míscaros, Festival dos Cogumelos, que em novembro atrai milhares de forasteiros a Alcaide. Já no centro da aldeia não deixe de visitar a igreja matriz (século XIII) e a sua imponente torre sineira.
Terra estranha, secreta e generosa
Pouco mais de 10 quilómetros separam Alcaide de Alpedrinha (pela EN 18), vila secular reclinada a mais de 500 metros de altitude na encosta sul da Gardunha. Do vasto património, quase toda em granito, sobressai o Palácio do Picadeiro, solar barroco construído no século XVIII que prendeu o olhar de José Saramago quando o escritor passou por esta “EsTraNha terra”, em que a “estrada passa-lhe ao pé, c o r t a – a pelo ME IO, e contudo é como se passasse (entre) 2dois muros que nada deixassem ver”. “ALPEDRINHA é secreta”, escreveu Saramago numa curiosa grafia.
Na altura o palácio estava em ruínas e Saramago pouco mais viu que “janelas entaipadas” ou “abertas para o céu” mas hoje o viajante ficaria surpreendido com tamanha harmonia e sumptuosidade. Depois de totalmente remodelado, o edifício passou a revelar as artes e os ofícios da região através de uma viagem multimédia com passagem, por exemplo, pelas salas dos Embutidos (arte de ornamentar madeira com passado em Alpedrinha) ou das Vias da Transumância, viagens sazonais de pastores e rebanhos entre vales e planícies. Uma tradição que inspirou a mais importante festa da vila, realizada em setembro e conhecida por Chocalhos.
O pátio do Plaácio do Picadeiro é um bom miradouro para a vila, de onde se alcançam alguns dos monumentos imperdíveis, como o Monumental Chafariz de D. João V (quem beber desta fonte há de voltar, diz uma lenda), a Capela de Santo António, num terreiro ao sul da vila, e a Igreja Matriz, um dos dez templos da povoação. Junto a ela fica a Casa do Cardeal, berço da mais ilustra figura da terra – o Cardeal D. Jorge da Costa – alto dignatário da igreja católica no século XV/XVI que chegou a ser eleito Papa mas abdicou a favor do amigo Júlio II. Como hão de constatar os visitantes, Alpedrinha também é terra de gente generosa.
Um espetáculo no anfiteatro da serra
Continuando para sul, seguimos rumo a Castelo Novo por onde José Saramago também andou. Na memória ficou-lhe “uma das mais comovedoras lembranças do viajante” e é fácil perceber porquê. Aninhada nas faldas da serra da Gardunha, que aqui forma uma espécie de anfiteatro natural, esta aldeia histórica é como uma malha apertada de granito, feita de solares senhoriais, casas seculares, restos de calçada romana e inúmeros edifícios históricos.
Entre eles destaca-se a Casa da Câmara/Cadeia (Antigos Paços do Concelho) cuja simplicidade medieval contrasta com o chafariz barroco que lhe está adossado. Bem mais antiga é a Lagariça ao ar livre (século VII ou VIII) que evoca a vida comunitária na aldeia. Quanto ao património religioso, não deixe de espreitar a Capela de Santo António, a igreja setecentista da Misericórdia e a Igreja Matriz (ou de Nossa Senhora da Graça), com origens na idade medieval mas totalmente remodelada no século XVIII.
Obrigatória é também uma visita ao castelo medieaval da aldeia, com o casario aos pés e a Gardunha na retaguarda. De novo tem muito pouco (remonta ao século XIII) mas acabou por dar nome à terra porque no topo da serra havia outro mais antigo. Entre as muralhas destacam-se a torre de menagem (uma parte está em ruínas, a outra foi recuperada) e a Torre do Relógio. Há muito que este marca o compasso à vida dos (poucos) habitantes locais mas para quem é de fora o tempo parece ter parado. Qual cereja no topo do bolo, é o local perfeito para terminar este roteiro.
Roteiro da Gardunha
Distância de Lisboa: 260 Km
Percurso recomendado: A1, A23
Custo das portagens: 18.30€
Distância do Porto: 260 Km
Percurso recomendado: A1, A25, A23
Custos das portagens: 18.70€