Um palacete digno de um marquês, onde o destaque vai direitinho para a cozinha da beira litoral, já com uma longa tradição. As entradas são famosas, assim como as sobremesas, graças à variedade e à qualidade. São sete salas de refeição, distribuídas por três pisos, cada uma com uma ambiente e uma atmosfera próprios. Entre o rústico popular da sala com paredes de pedra e lareira e o rústico requintado da sala com paredes com relevo características dos palácios e casas senhoriais do século XIX, a decoração oscila entre o moderno e o clássico.
Acessos para deficientes: SimQuantos de nós não conhecemos sítios que muitas vezes, injustamente, estão esquecidos nos mapas e que são apenas pontos de passagem para outras terras mais concorridas?
Só que a determinada altura, basta um relato mais emocionado com duas ou três fotos anexadas para que a visita seja inevitável. Isto é válido para terras, monumentos e neste caso um restaurante.
Em Cantanhede, o Marquês de Marialva, é um tributo gastronómico de um filho da terra a um outro de grande importância para a compreensão da História de Portugal.
O marquês de que se fala exerceu cargos de conselheiro de Estado e mostrou muito do seu valor em diversas guerras por si comandadas ao serviço da independência nacional.
Patriota leal, assim parecem demonstrar os factos, (determinou em testamento que lhe enterrassem o coração aos pés do sepulcro de D. João IV) apesar da reputação contrária gerada à sua volta. Quem desta terra é, sente com desconforto a definição depreciativa do termo marialva.
O edifício onde está alojado bem no centro da cidade é centenário. Por fora reina a simplicidade arquitectónica, mas por dentro o ambiente é de requinte. Ponha de parte a ideia de uma sala muito grande e ampla (que também há, mas para grupos e festas) e imagine pequenas salas, ricamente decoradas, a lembrar algumas divisões da nossa casa e um toque de diferenciação com os vitrais coloridos. Junte-lhe um serviço gentil e bem disposto.
Algumas paredes revestidas a pedra dão o toque do rústico mas sem o exagero do alho e da cebola ao dependuro. Uma lareira acolhe à sua volta antigos utensílios de cozinha em cobre.
À entrada, no corredor, a primeira imagem é a de cestos cheios de garrafas de vinho. Bons néctares, pensamento evidenciado assim que se passa os olhos pela carta de vinhos com incidência para os da Bairrada e algumas reservas de muito boa qualidade.
E já que se fala naquilo que se bebe, as boas-vindas para uma refeição que se quer uma festa dos sentidos, são comprovados por um copo de espumante. A mesa está bonita, vestida de branco dos pés à cabeça e enfeitada com um pequeno arranjo floral.
Para começar a compor ainda mais o ramalhete, surge o Centro do Marquês, um prazer para a vista e para o paladar. A couve lombarda em pirâmide sustenta enchidos, queijos e fruta. Está tão bem feito que nem apetece estragar. Ideal para compartir com mais amigos e só custa 10 euros.
Gosta de petiscar? Então prepare-se para as entradas de inspiração regional. Pataniscas, salada de polvo, morcela, farinheira, entrecosto em vinha d’alhos, dobrada com feijão manteiga, carapaus com molho de escabeche, enguias fritas, marisco e um pão estaladiço que acompanha qualquer prato. Quanta coisa.
Prefere peixe grelhado? Decida-se de entre uma dourada, um linguado ou um robalo. Espetada de frutos do mar ou de gambas na brasa deixam qualquer um indeciso. O tradicional bacalhau à lagareiro é um “prato cheio” e o que se diz do cabrito, do borrego, da chanfana, do pato....
Toda a sorte de produtos do mar e da terra. Mas não são só as entradas que merecem uma construção espectacular. O fim da refeição é outro bom exemplo.
O carrinho das sobremesas arrasta propostas irrecusáveis. Doces de ovos, pastéis de nata, compotas, geleias, pêra em vinho, e outros doces de colher como mousses, arroz doce, baba de camelo...
Alguém pensou neste conceito e muito bem. Sem dúvida, uma doce recordação de um dia bem passado.
REPORTAGEM ACTUALIZADA EM MARÇO DE 2010