A Paisagem Protegida do Litoral de Esposende, requalificada para Parque Natural do Litoral Norte abrange agora uma área terrestre de 1237 hectares, desde a foz do Neiva até à praia da Apúlia, passando pela foz do Cávado. A sua área foi também prolongada pelo mar numa faixa marítima de 2,5 milhas, criando um parque misto, terrestre e marinho, com um enquadramento e uma biodiversidade únicos em Portugal.
É constituído por praias e dunas, às quais se associam rochedos costeiros, os estuários dos rios Cávado e Neiva, manchas de pinhal e mata, bem como paisagens rurais que assentam numa tradição agrícola antiga, especialmente na apanha do sargaço (algas marinhas) e do pilado (pequenos crustáceos).
A protecção do sistema de dunas é um dos objectivos centrais deste parque natural, uma vez que a pressão turística tem provocado uma crescente erosão costeira. É por isso que a vegetação dunar, com espécies como o cardo-marinho, o estorno e os cordeirinhos-da-praia, apresenta um papel fundamental na fixação das areias. Já nas zonas de transição para o mato surgem algumas espécies exóticas como o chorão e a acácia, e mais para o interior existem manchas de pinheiro-bravo. Em matéria de fauna, podem observar-se diversas espécies migradoras e residentes, como a garça-real, o pato-real e o guarda-rios comum, enquanto a lampreia, a enguia, o robalo e a tainha são os peixes mais abundantes.
Nota final para um dos elementos mais emblemáticos desta área de paisagem protegida: os característicos moinhos de vento espalhados ao longo do areal da Apúlia, singelas mas bem preservadas construções, harmoniosamente integradas na paisagem.
A ideia comum que temos de uma praia é a de um areal com sol e água tépida. A cultura ocidental fez-nos acreditar que uma praia ideal reúne palmeiras com muito calor, associadas ao Verão, às férias e à diversão. Sem querer não conseguimos dissociar estas ideias umas das outras e será esta talvez a razão porque procuramos todos os anos o Algarve nos meses de calor. Navegamos aos milhões até ao Sul do país à procura da tal praia idílica que a maior parte das vezes existe apenas na nossa imaginação.
Aqui não há calor e muito menos palmeiras. A água do oceano raramente ultrapassa os dezassete graus e as ondas são muitas, invadindo o extenso areal. Embora não tenhamos de todo a imagem daquilo que associamos ser uma praia para férias, temos reunidas em 18 quilómetros de costa algumas das mais bonitas paisagens de Portugal, em quadros perfeitos que dá vontade de fotografar, pintar ou de qualquer forma reter na memória. Em vez das palmeiras há pinheiros, muitos. Pinhais enormes e desordenados, onde o chão está preenchido por completo com as agulhas da caruma, as pinhas caídas, o musgo a trepar pelas árvores acima e o sol a projectar raios, filtrado pelos ramos dos imponentes pinheiros. Talvez quem tenha passado a infância entre os pinhais do Litoral esteja habituado a reconhecer-lhes a magia mas compreende-se que para quem apenas conhece as árvores de cimento da cidade estas autênticas florestas marítimas sejam algo enigmáticas.
Os pinheiros, no seu habitat natural, vão crescendo de forma desordenada pela paisagem. Formam assim um autêntico labirinto de troncos esguios e húmidos, onde é imperativo que se escrevam dois nomes, se por lá passarem duas pessoas que se gostem… De repente, uma clareira intercepta o labirinto de árvores e deixa-nos ouvir o intenso falar dos pássaros. A garça real, o pato real e o guarda-rios ainda aparecem nesta Paisagem Protegida do Litoral de Esposende, mostrando uma Natureza marítima ímpar. O território foi delimitado como área protegida em 1987 e dele fazem parte não só os pinhais de Ofir como uma série de outras paisagens litorais de uma beleza intensa mas suave. Intensa porque nos dá vontade de conhecer até não podermos mais e suave porque nos lembramos dos livros do século XIX, da «Sensibilidade e Bom Senso» de Jane Austen e daquelas casas onde as personagens passavam as férias e onde havia sempre um pinhal como aquele, uma praia como aquela.
2004-01-20