Há mais de vinte mil anos o Homem viveu no vale do Côa e aí deixou marcas da sua História, um legado único que pode ser apreciado neste parque. Estão identificados vários conjuntos de gravuras e pinturas rupestres muito importantes, que compõem seis galerias de arte: Canada do Inferno, Ribeira de Piscos, Penascosa, Quinta da Barca, Fariseu e Faia. Estes núcleos apresentam gravuras de animais datáveis do Paleolítico e, na Ribeira de Piscos, uma figura humana da mesma época. No sítio da Faia existem pinturas de animais e seres humanos do Neolítico ou Calcolítico e em Orgal há rochas com gravuras da mesma época e também da Idade do Ferro. Na Canada do Inferno encontramos ainda representações religiosas e populares recentes, executadas entre o século XVII e os anos 50 do século XX.
Estes núcleos situam-se junto às margens do rio Côa ou dos seus afluentes, em áreas de afloramentos xistosos, à excepção da Faia, que se localiza numa zona granítica. Existem ainda diversos núcleos de gravuras em pequenos vales da margem esquerda do Douro de que são exemplo o do Vale da Casa, já estudado no início da década de 80, antes da sua submersão pela construção da Barragem do Pocinho.
Nestes conjuntos, classificados como Património da Mundial da Humanidade, estão particularmente bem representados motivos filiformes da Idade do Ferro, nomeadamente figuras de cavaleiros com cabeças de pássaros empunhando lanças e espadas. A grande importância das gravuras do vale do Côa reside no facto de, até à descoberta das gravuras do vale do Côa, julgar-se que a arte rupestre paleolítica se circunscrevia ao interior das grutas.
Para visitar o parque é obrigatória marcação prévia (tel. 279 768 260), com pelo menos uma semana de antecedência, pois o número de visitantes é limitado.
Perdem-se todas as ideias feitas que temos da arte da pré-história. Do Paleolítico superior surgem-nos as mais diversas representações, quase todas remetidas à Natureza, com uma perícia e com tais subtilezas que formam verdadeiros quebra-cabeças da interpretação. Parados ali, perante toda a História da nossa civilização, nada podemos fazer senão contemplar e ir seguindo com os dedos os sulcos nas rochas com representações milenares. O Parque Arqueológico do Vale do Côa é a entidade responsável pela gerência e protecção do espólio rupestre do vale, assim como pela promoção das visitas e da divulgação das gravuras. Recorde-se que a arte rupestre do Côa está classificada como Monumento Nacional desde 1997 e como Património da Humanidade em 1998. E quem não se lembra de como os defensores da arte tiveram que lutar contra a destruição das gravuras por uma barragem, algures nos anos noventa? Polémicas à parte, o vale do Côa é, na sua grandiosidade, um dos principais espaços de arte rupestre do mundo, com 28 núcleos de gravuras ao longo dos 17 quilómetros do Rio Côa. Hoje em dia o Vale do Côa é um local predominantemente verde, onde os montes se vão colorindo com o amarelo e o vermelho das papoilas, a riquíssima fauna do local, onde se destaca a pêga-azul, uma ave que existe apenas na Península Ibérica e na China, e uma paisagem de cortar a respiração.
Com uma temperatura média perto dos 30 graus logo em Fevereiro e que chega a atingir os 50 em Julho, o Vale do Côa nem sempre foi assim. Na altura em que os homens pré-históricos desenharam as suas gravuras, a temperatura da era glaciar rondava os 10 graus negativos, sendo ainda assim dos locais de clima mais temperado e por isso a fixação de um povo semi-nómada ali. Ao contrário do que se pensa, estes homens não vivam em grutas mas sim em cabanas, construídas com madeira e pele de animais, que também lhes serviam de roupa. Por lá existia o urso, tendo sido o último local de extinção deste animal no nosso país. Mas o que, de facto, desenhavam os artistas de Foz Côa? Permanece no segredo dos deuses a razão exacta dos desenhos. Pura arte? Marcar terreno? Identificar os animais da região? Deixar o seu legado para o futuro? Motivos de culto religioso? Não existem conclusões específicas e o que há a fazer é apenas observar, tentando perceber as formas e identificar os animais.
2003-07-08