A Ghost Tours Portugal chega a Lisboa para dar a conhecer os episódios chocantes, misteriosos e emocionantes da cidade. Apresenta um conceito diferenciador no mercado das visitas turísticas pedestres. Durante um percurso de aproximadamente uma hora e meia, terá a possibilidade de ficar a conhecer de uma forma simultaneamente divertida e pedagógica, os acontecimentos mais dramáticos, bizarros e misteriosos que permaneceram ocultos nos recantos da história de Lisboa ao longo dos séculos.
O lado negro de Lisboa
Quando a noite cai, Lisboa, a luminosa, converte-se num lugar cheio de sombras. É essa a melhor altura para partir à descoberta da história negra da cidade. Juntámo-nos à Ghost Tours e percorremos becos e vielas tortuosas em busca de memórias trágicas e lendas fantasmagóricas.
“Prontos para descobrir as histórias mais assustadoras de Lisboa? Sigam-me!”. Quem fala é o guia, André Raposo, que surge vestido de capa preta comprida, com uma lanterna a iluminar o rosto. Marcámos encontro para um sábado, às 21h30, por baixo do Arco da Rua Augusta. Não se ouvem badaladas sinistras nem portas a ranger, só vozes de turistas despreocupados, mas no céu as nuvens brancas ocultam a lua quase cheia e, se nos concentrarmos, há uma sugestão de neblina no ar.
A Haunted Lisbon Tour (Rota pela Lisboa Assombrada) está prestes a começar, e o grupo de cinco pessoas segue obediente atrás do guia até ao primeiro local de visita: um prédio devoluto numa esquina da Rua da Madalena que, por trás da aparência inocente, oculta uma antiga história macabra de ganância e homicídio por envenenamento. Os detalhes sangrentos são descritos minuciosamente, no melhor estilo tabloide medieval.
O grupo apressa o passo em direção à Sé. Ao longo da hora e meia de excursão o ritmo será sempre a passo rápido, colina acima, colina abaixo. Por ora, paramos uns minutos na escadaria do monumento onde, em 1383, um bispo foi vítima da fúria raivosa do povo. O fim da história mete vísceras e entranhas à vista mas o ator conta tudo exibindo um riso escarninho.
Realidade ou ficção
Todas as histórias resultaram de uma investigação feita nos arquivos da Torre do Tombo e de jornais antigos. Selecionaram-se os episódios reais mais negros e as lendas e boatos mais sugestivos, explica Rita Ferreira. Foi em 2011 que, juntamente com Sandra Ferreira (apesar do apelido não são parentes), criou a Ghost Tours. “Tinha visto roteiros deste género em vários países, como o Canadá e Inglaterra, e apercebi-me que não havia nada igual em Portugal. Desafiei a Sandra e apostámos no conceito”, conta.
Em vez dos tradicionais guias optaram por ter atores vestidos a preceito a dramatizar as histórias in loco. Além do percurso Baixa-Castelo - o que fazemos hoje -, há um outro no Bairro Alto-Chiado e prevê-se para breve um terceiro no centro do Porto. As marcações fazem-se pela internet (o preço é de 18 euros – 15 para grupos com mais de seis) e o roteiro arranca com um mínimo de seis pessoas e máximo de 25. Há empresas que contratam as Ghost Tours para fazer um team building de susto e também grupos de despedidas de solteiro.
Continuamos a subir rumo ao Beco do Bugio, bem perto da cadeia do Limoeiro, onde paramos a ouvir a história sangrenta do último condenado à morte. A visão da capa ondulante do guia faz virar os olhares de quem passa, um efeito que ele aproveita para pregar alguns sustos aos transeuntes – uns são recebidos com gritinhos e risadas, outros com protestos indignados. É a cidade imprevisível, em direto da noite escura.
No miradouro do Mercado do Chão do Loureiro ficamos a conhecer a lenda de Ofiússa, a rainha serpente apaixonada por Ulisses que, cheia de fúria pela sua partida, fez a terra tremer moldando as sete colinas de Lisboa, e, já na reta final, há paragem obrigatória na porta da Igreja de São Domingos, onde, em 1506, dois a quatro mil judeus foram mortos num massacre que se espalhou por toda a cidade.
A despedida é no Rossio, contemplando o lugar onde a desafortunada Catarina Maria foi queimada viva em fogueira lenta depois de acusada de bruxaria pela Inquisição.
No fim, amarelecem os sorrisos e fica o desconforto frente à face mais negra da cidade. Será talvez do riso escarninho do guia em face dos horrores da história ou porque, agora, o som dos nossos passos na calçada tem o eco da inocência perdida.
2013-11-20