O Corredor Verde num tapete vermelho
Demorou mais de 30 anos a arrancar mas valeu a pena. O Corredor Verde de Monsanto liga o Jardim Amália Rodrigues ao parque florestal num percurso de 2,5 km que releva o lado mais saudável e ecológico de Lisboa. O Lifecooler pegou na bicicleta, deu ao pedal e descobriu uma cidade de pulmão cheio.
Guardado na gaveta desde os anos 70, o projeto do Corredor Verde de Monsanto (uma ideia do arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Teles) só ganhou pernas para andar em dezembro de 2012, altura em que foi finalmente inaugurado. Para andar e paladar, dizem os amantes das bicicletas, que passaram a ter uma via ciclável de excelência em matéria de traçado, segurança e envolvência. (Se não sabe andar de bicileta, saiba aqui onde aprender).
O ponto de partida deste passeio, no alto do Jardim Amália Rodrigues, prova-o bem e oferece uma das melhores vistas de Lisboa, estendendo-se desde o Parque Eduardo VII até ao Tejo. Uma boa altura para virar as costas à agitação da cidade e seguir na direção oposta, rumo à ponte de madeira (em pinho nórdico) que passa por cima da Rua Marquês de Fronteira.
Do lado de lá, junto ao Palácio da Justiça, espera-nos uma pista vermelha rodeada por prado de sequeiro (mais sustentável que o relvado) onde encontramos os primeiros utilizadores. Mesmo em tempo de chuva há quem não abdique da habitual corridinha ou pedalada mas até os mais novatos têm a tarefa facilitada porque (neste sentido) o caminho é quase sempre a descer.
Miradouros, jardins e arte urbana
O percurso ainda mal começou mas fazemos já uma pausa junto ao parque de skate, que oferece um curioso panorama de Lisboa com as abóbadas e o minarete da mesquita em primeiro plano. Mas as vistas surpreendentes não ficam por aqui porque pouco depois (após a Faculdade de Economia da Universidade Nova) iremos encontrar outro miradouro, já com Monsanto em pano de fundo. O parque florestal pode parecer perto mas até lá ainda temos muito que pedalar.
Para já é necessário passar a ponte Gonçalo Ribeiro Teles sobre a Avenida Calouste Gulbenkian que dá acesso ao jardim Amnistia Internacional. Rodeado de alfarrobeiras, oliveiras e medronheiros, este espaço verde conta com um circuito de manutenção, um parque infantil, um anfiteatro e até uma horta urbana. Quem precisar carregar baterias (bebidas ou snacks) também tem à disposição o Quiosque d´Avó.
Continuando sempre a descer iremos cruzar-nos pela primeira vez com o trânsito automóvel mas antes da passadeira na rua de Campolide vale a pena admirar um dos mais belos exemplos de arte urbana de Lisboa. Batizado com o nome Flor de Íris ocupa toda a parede lateral de um edifício antigo e oferece um toque de irreverência e modernidade ao corredor verde. Já no outro lado da rua fica a Quinta do Zé Pinto, espaço pedagógico que trouxe o campo à cidade ao plantar uma seara em plena capital.
Meta à vista
“Está aqui, está em Monsanto”, diz um cartaz colocado junto ao novo parque infantil de Campolide (ao lado da quinta) e é mesmo verdade. Para chegarmos à mata só falta percorrer o que resta da Rua de Campolide (cerca de 250 metros), com passagem sobre a linha ferroviária e sob o viaduto do Eixo Norte-Sul.
Depois de mais três ou quatro passadeiras (cuidado porque nem todos os automobilistas param em tempo útil) chegamos a um parque de estacionamento que marca o início de Monsanto. E aqui os ciclistas têm várias opções: ou continuam pela ciclovia que rodeia a mata (paralela à radial de Benfica) ou partem à descoberta da enorme rede de percursos (pedonais e cicláveis) do Parque Florestal de Monsanto. No total há cerca de 40 km à disposição, uns mais tranquilos, outros a puxar pela adrenalina. (Para outras ciclovias e ecopistas, consulte este dossiê.)
Quanto a nós, é tempo de voltar para trás e preparar as mudanças mais leves da bicicleta porque agora o caminho faz-se a subir. Se antes todos os santos ajudaram agora… pernas para que te quero!
Nelson Jerónimo Rodrigues