Da banca da peixeira à mesa do chefe
O Mercado da Ribeira ganhou uma nova vida e promete ficar nas bocas do mundo ao juntar bancas tradicionais, restaurantes gourmet e lojas da moda. O melhor da cidade e não só em mais de 30 espaços que dão a provar sabores clássicos e novidades fresquinhas. Nesta Ribeira cabem mares de gente e fregueses de toda a espécie.
O que têm em comum as peixeiras Maria Hermínia, a talhante Maria da Anunciação e a florista D. Elisabete com os chefes Dieter Koschina, Henrique Sá Pessoa e Vítor Claro? Um espaço comercial no novo sítio da moda em Lisboa: o Mercado da Ribeira. Inaugurado a 18 de maio pelas mãos da revista Time Out, pegou num conceito que faz sucesso em toda a Europa (Mercado de Campo de Ourique incluído) mas tornou-o mais ambicioso, tanto em área disponível, como nos nomes envolvidos e projetos para o futuro.
Observado de fora o Mercado da Ribeira não está muito diferente mas lá dentro salta à vista uma grande praça de restauração com mais de 500 lugares sentados. A rodeá-la estão dezenas de espaços gastronómicos, independentes e separados geometricamente mas com linhas, cores (predomina o preto e o branco) e materiais idênticos. Mesmo assim, a arquitetura dos antigos mercados não se desvaneceu e contínua marcante, por exemplo no típico telhado de ferro e vidro.
A ala norte da praça de restauração foi entregue a cinco dos mais mediáticos chefes nacionais, apostados em dar a provar a autêntica cozinha de autor mas com preços acessíveis, a rondar os 10/15€. É o caso, por exemplo, da barriga de porco com teriyaki de Alexandre Silva, do à Brás de pato de Miguel Castro e Silva ou do leitão reinventado por Henrique Sá Pessoa. Marlene Vieira também deu asas à criatividade nos mini hambúrgueres de pato, enquanto Vítor Claro apresenta uma criação recente: os bijous de luxo, pães caseiros, fofos e ligeiramente adocicados, recheados com produtos premium como creme de sapateira ou roast beef em foie gras fresco. Por esta altura já terá vontade de experimentar um de cada mas não se esqueça que ainda há muito mais para ver e provar.
Constelação de estrelas
Junto às mesas e cadeiras ficam mais 11 espaços gastronómicos, com destaque para o Tartar-ia, projeto assinado por Dieter Koschina, chefe do restaurante Vila Joya, no Algarve, galardoado com duas estrelas Michelin. Como o nome indica, aqui reinam os tártaros (doces e salgados). A rodeá-lo estão outros nomes sonantes – Sea Me, Café de São Bento, Monte Mar e Cozinha da Felicidade - e do lado oposto está mais uma mão cheia de estrelas lisboetas: Prego da Peixaria (os Burgers de Salmão e Bacalhau já provocam filas), Asian Lab, Pizza a Pezzi, Confraria e Honorato. Num recanto, a caminho da zona tradicional de flores e fruta, espreita a Croqueteria.
O centro da praça é ocupado por várias ilhas, onde encontramos algumas das principais novidades do mercado. Uma delas é a Beer Experience da Super Bock, quiosque onde os visitantes (auxiliados por especialistas) são convidados a tirar a sua própria cerveja. Original é também o Enólogo do Mercado (projeto do grupo João Portugal Ramos) com vinhos personalizados e até um jogo inspirado no estado de espirito dos clientes. O Bar da Odete e do Esporão são os outros dois quiosques dedicados ao vinho, enquanto a Casa da Ginja, Frutologia da Compal, Cinco e Meia (cocktails) e Café Delta completam esta área.
O “quadrado” mais desimpedido da praça junta três paraísos dos doces – Santini, Nós é Mais Bolos e Arcádia – a outras lojas selecionadas, como Conserveira Nacional, Manteigaria Silva (queijos e presuntos é com eles), O Meu Amor é Verde (loja de flores, plantas e ervas aromáticas), Garrafeira Nacional e Folha do Cais. O resultado é uma espécie de mercado reinventado (ou shopping original) que perde em autenticidade e vida de bairro mas ganha em estilo e localização. Agora, sempre que tiver um amigo em Lisboa e quiser dar-lhe a provar o melhor da cidade, já não precisa andar de um lado para o outro. Afinal está (quase) tudo no Mercado da Ribeira.
Ó freguesa, olhá esplanada, o carapau e o manjerico
A “nova” Ribeira também ganhou direito a esplanada, ou melhor, três esplanadas – Trincas (do The Decadente), Aloma e Marisqueira Azul – com capacidade até 250 pessoas sentadas. Estas estão viradas para a Praça D. Luís I onde foi montado um quiosque vermelho que, em breve, dará a provar “as melhores sandes do país”, também elas criadas por chefes de renome.
É claro que qualquer visita ao mercado só ficará completa com um passeio pela zona das bancas tradicionais. E aqui continuam a marcar presença (em menor número, é certo) as peixarias, o talho, as bancas de frutas e legumes, o corredor das flores e muito mais. Apesar das mudanças nos espaços vizinhos, o caráter genuíno desta área mantém-se, que é como quem diz a simpatia dos vendedores, os pregões e os produtos fresquinhos, fresquinhos.
Para o futuro os promotores do projeto já preparam mais novidades, quase todas no primeiro andar do edifício, ainda em obras. Um restaurante, um bar, uma loja, uma sala multiusos e um espaço dedicado ao turismo vão ocupar o primeiro piso do mais emblemático - e agora também mais badalado - dos mercados lisboetas.
Nelson Jerónimo Rodrigues 2014-05-21