Retiro no convento
A transformação em unidade hoteleira de um antigo convento veio devolver à Sertã um edifício emblemático situado numa das zonas privilegiadas da vila.
Entramos pela antiga capela da oração. E é a própria acústica do espaço que nos impele a abrandar o tom da voz. Recebidas as primeiras instruções, incluindo orientações turísticas para explorar as redondezas, segue-se para uma das salas mais emblemáticas: o claustro.
O edifício, recuperado com cuidado, mantém a arquitectura original e até ainda se conseguem ver onde eram os confessionários. O antigo claustro, tapado, mas com muita luz natural, é uma das zonas nobres e o local escolhido para o pequeno-almoço, a única refeição servida no convento. Dentro de horas, será ali que irá tomar a primeira refeição da manhã, repleta de sabores da região. Aprecie lentamente cada iguaria. Após o café, o leite, o sumo de laranja natural, o pão e as compotas caseiras, há também finas fatias de vários queijos e umas queijadinhas e queques de cenoura que muito dificilmente conseguirá evitar repetir mais uma vez. Pelo menos.
E de facto, nesta unidade hoteleira a gastronomia é um parceiro permanente ou não fossem dois dos restaurantes mais conhecidos da vila pertença do grupo: o Santo Amaro e o Ponte Velha, este último mesmo ao lado do convento. Ambos servem as especialidades locais: maranhos e o bucho da Sertã, a sopa de peixe D. Helena, ou os cartuchos de amêndoa à moda de Cernache e a tigelada beirã.
E é de barriga cheia que se pode seguir viagem. A interior - deixando-se a relaxar no hotel, eventualmente despertando a curiosidade pela história do edifício, e a exterior - explorando a envolvente do convento, situado perto do parque ladeado por duas ribeiras onde encontra a ponte romana. Não faltam também pretextos para partir à descoberta das praias fluviais e aldeias da região Centro.
A memória do lugar
Em 2013, o edifício do antigo convento franciscano do século XVII foi finalmente transformado numa unidade hoteleira. Toda a intervenção apostou no conforto e na preservação das reminiscências do passado. Mantiveram-se detalhes, recuperam-se objetos e mantiveram-se as referências à história e personalidades locais, sendo este um dos espaços importantes da memória das gentes da vila da Sertã.
O convento, fundado em 1634 pelos freis Jerónimo de Jesus e Cristóvão de S. José, pertencia à Ordem dos Frades Menores, franciscanos, que dependiam das doações da população. Para além do ensino do Latim, tiveram um papel importante na educação de alguns sertanenses em outras áreas. Outra das histórias que se contam, e está documentada, é a iniciativa dos frades, quando, em 1812, durante a terceira invasão francesa, solicitaram armas para a defender a ponte romana existente nas imediações.
Após a extinção das ordens religiosas, o convento foi secularizado e entregue ao Governador Civil de Santarém, passando por várias mãos até chegar a Maria Clementina Relvas, irmã de José Relvas, o homem que anunciou a República em 1910, na varanda da Câmara de Lisboa. D. Clementina era uma senhora abastada, algo que nunca se coibiu de demonstrar e que, segundo dizem, até acendia o tabaco com notas.
Já durante o século XX, o convento serviu de quartel da GNR e cadeias civis. Anos mais tarde acolheu a escola primária, a sede dos escuteiros e esteve para ser biblioteca da vila. Depois o emblemático edifício ficou esquecido durante anos e sem qualquer intervenção até que, em 2010, a autarquia resolveu dar uma nova utilidade ao imóvel.
Mais lazer
O hotel tem 25 quartos todos com nomes de pessoas ligadas à memória do convento, maioritariamente frades, incluindo a suite prestige Maria Helena Marçal, a cozinheira de mão cheia que também dá o nome à sopa de peixe servida nos restaurantes.
Este é o quarto mais nobre, com aposentos espaçosos, cama queen size e direito a zona de duche e banheira. No quarto premium destaca-se a decoração cuidada, com peças de mobiliário clássico e moderno. No leque de opções há a versão romantic, onde são evidentes as marcas da preservação da traça original do edifício, com manutenção da pedra e estruturas em ferro, e os quartos mais clássicos, com a mesma qualidade e conforto, mas de dimensão mais reduzida. As tonalidades mais usadas são cores reconfortantes, com predomínio dos castanhos e beges complementados por peças em vermelho.
A unidade hoteleira de quatro estrelas tem ainda uma pequena piscina e um health club onde se pode tratar do corpo. Pode desfrutar de uma massagem de corpo inteiro intitulada “o silêncio retemperador do convento”, mas também optar por outras experiências e rituais, como s massagens com pedras quentas, ayurvédica, reiki, exfoliações corporais e de rosto, com areia e pétalas.
Andreia Fernandes Silva 2014-05-28