Caminho do Tejo

Do rio ao santuário pelos trilhos do povo

Durante as peregrinações do 13 de outubro todos os caminhos vão dar a Fátima mas há um em particular que promete tornar-se numa experiência única: o Caminho do Tejo. De Lisboa ao Santuário são quase 150 quilómetros para fazer a pé por trilhos rurais e desconhecidos, na companhia do rio, da lezíria e da serra. O Lifecooler lançou um guia que ajuda a descobri-lo e apresenta-lhe agora em primeira mão cada um dos cinco dias de viagem.

Iniciado em 2000 e terminado em 2003 o Caminho do Tejo foi o primeiro Caminho de Fátima objeto de recuperação. A iniciativa partiu do Centro Nacional de Cultura (CNC) com o objetivo de requalificar os trilhos tradicionais que o povo foi criando para chegar aos lugares santos e recuperá-los para uso dos peregrinos e da população em geral, afastando-os tanto quanto possível dos perigos e dos incómodos inerentes à circulação pelas bermas das estradas.

O percurso atravessa 10 municípios (Alenquer, Alcanena, Azambuja, Batalha, Cartaxo, Lisboa, Loures, Ourém, Santarém e Vila Franca de Xira) quase sempre por caminhos alternativos que não comportam os riscos de acidente comuns nos percursos tradicionais. Trata-se de verdadeiros itinerários de turismo e natureza para serem descobertos ao ritmo de cada um, sempre com a ajuda dos marcos situados ao longo do percurso.

Ao mesmo tempo que pôs mãos à obra o Centro Nacional de Cultura lançou também o guia Caminho do Tejo (editado pelas Seleções Reader`s Digest) mas 15 anos depois, o Lifecooler laçou uma versão atualizada, de consulta fácil, com fotos, mapas e textos de quem conhece o itinerário passo-a-passo. Henrique dos Santos Pereira e Ana Luísa Ferro são os autores que dividiram o percurso em cinco dias de caminhada. Venha daí descobri-los.

Dia 1 – Lisboa/ Vila Franca de Xira
De mãos dadas com o Tejo


Os destaques nesta primeira jornada são claramente o início e o final, ou seja, as partes em que caminha de mãos dadas com o Tejo. Em traços gerais, não se pode dizer que esta jornada seja mais frondosa, verdejante e simpática para o caminhante, mas é um excelente começo para a aventura e uma prometedora antevisão de tudo o mais que, de muito bom, espera por si.

Aprecie sobretudo o facto de caminhar quase sempre por trilhos campestres e pense na dificuldade que deve ter sido conseguir conceber uma rota Lisboa – Vila Franca de Xira em que circula menos de três quilómetros pela EN 10.

Dia 2 – Vila Franca de Xira/Azambuja
Pouca terra

Trata-se da jornada mas curta dos Caminhos do Tejo. Permite-lhe um (relativo) "repouso" depois de uma primeira jornada mais intensa e antes das três gloriosas jornadas que se seguirão. Todo o percurso é efetuado por estradas, existindo-as de todos os tipos: principais e secundárias, asfaltadas e empedradas, movimentadas e tranquilas.

É a jornada mais industrial de todas: verá inúmeras unidades industriais, parques logísticos, fábricas de automóveis, grandes superfícies comerciais e até cruzará uma central termoelétrica.

Por último, os caminhos seguem muitas vezes lado-a-lado com a via-férrea, durante largos quilómetros e, em geral, nunca se afastam muito da mesma. Bastará constatar, por exemplo, que tem início junto a uma estação e termina junto a outra.

Dia 3 – Azambuja/Santarém
A lezíria, as valas e os “Caminhos do Ar”


Neste dia vai caminhar pela lezíria e deliciar a vista com belas paisagens, em que as valas - com as suas verdejantes margens - são um elemento predominante.

Depois de ter tido contatos próximos com caminhos por estrada e por via-férrea, agora seguem-se os caminhos do ar: aeródromos. Só nesta jornada vai passar junto a três.

Dadas as diferentes culturas que se praticam nestes terrenos, a paisagem varia bastante ao longo de todo o ano, o mesmo sucedendo com as cores dominantes, basicamente o verde (no fim do inverno e na primavera), o castanho (no inverno e entre as culturas) e o amarelo (no verão).

O trajeto é muito plano (excetuando a parte final) e pouco "agitado": ao longo de toda a sua extensão irá atravessar unicamente quatro pequenas localidades (Reguengo, Valada, Porto de Muge e Omnias, esta última já muito perto de Santarém) e a quase totalidade do trajeto é feita por caminhos de terra ou estradas com muito pouco tráfego. Pode, sem dificuldade, andar 10 ou15 quilómetrossem se cruzar com uma única pessoa.

Dia 4 – Santarém/Monsanto – Alcanena
Sobe e desce até aos Olhos de água


Esta jornada caracteriza-se por contar com zonas de subidas e descidas e, a partir de cerca de um quilómetro após sair de Arneiro das Milhariças, os caminhantes poderem optar entre dois trilhos diferentes.

O objetivo final é chegar a Monsanto mas nesta aldeia não existe alojamento, pelo que será difícil pernoitar. A alternativa consiste em, na serrania, quando os marcos apontam para sentidos opostos seguir antes para Alcanena (onde existem ofertas para alojamento), pernoitar nesta vila e, na manhã seguinte, fazer o troço por estrada até Monsanto (cerca de5,5 quilómetros), retomando o Caminho do Tejo.

Dia 5 – Monsanto – Alcanena/Fátima
Milagres da natureza


É tarefa difícil escolher qual a jornada que proporciona o panorama mais bucólico. A última é uma fortíssima candidata ao título e será certamente a preferida de muitos caminhantes. A paisagem, composta em grande parte por matas e matagais, é verdejante em todas as alturas do ano e, em vários troços, encontra-se em estado selvagem. Enquanto nas jornadas anteriores é patente a intervenção do Homem nos campos, nesta ficará certamente agradado com a fantástica beleza natural que terá ao dispor da sua vista.

Esta jornada – há que dizê-lo – é também aquela em que as subidas marcam uma presença mais acentuada, o que poderá justificar mais paragens para repousar. Tal não constituirá certamente um problema, pois são inúmeros os locais onde poderá fazer um intervalo.

Irá atravessar a serra de Santo António, subindo a uma altitude máxima de cerca de450 metros, mais300 metrosdo que quando partiu de Monsanto. Ficará surpreendido com a facilidade com que o vai fazer. Fátima estará ao virar da esquina. 

2014-04-30

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