O espaço é simples e agradável, pouco mais que uma cabana de madeira com duas esplanadas. Em volta, o mar a perder de vista, um cenário de cortar a respiração. A cozinha é igualmente feita da sabedoria das coisas simples, apetitosa e confeccionada com esmero.
Acessos: A 3 km da Zambujeira do Mar, no cruzamento para o Porto das Barcas.Costuma dizer-se que as coisas boas guardamos só para nós, mas como de inveja não sofremos, entregamos-lhe de bandeja um dos segredos mais bem guardados da restauração do sudoeste alentejano, a Barca Tranquitanas.
O Tranquitanas, como também é familiarmente conhecido, é dos melhores sítios para se comer peixe durante praticamente todo o ano, exceptuando Dezembro e Janeiro que fecha para descanso de quem passou o ano inteiro a trabalhar no duro.
Por esta altura, já a Barca está de regresso à labuta. É também um bom momento para regressar à costa alentejana e sem enchentes. A Zambujeira do Mar é daqueles locais que só conhece povo em dias festivos como festivais e nas alturas do Estio. Depois volta à sua existência simples até nova vaga. Este ciclo é um sinal de que o progresso não desvirtuou a essência desta bonita localidade e nos lembra a necessidade de a manter distante da vaga da urbanização sem controlo e a todo o custo.
Quando falamos de restauração, por vezes é complicado perceber o que é autêntico do que apenas tem charme. Aqui na Barca Tranquitanas, não conte com luxo, porque não é desse tipo de restaurantes que estamos a falar. O único luxo que aqui existe, que na altura da fome satisfaz mais do que o adorno de lustres numa parede centenária, é o de poder comer uns perceves acabados de arrancar às rochas aquando da maré vazia numa antiga tasca com ares de cabana de madeira que nasceu de acrescentos ao longo dos tempos. Este sim, é um luxo que faz sentido para quem se considera um bom garfo.
É sem qualquer receio que afirmamos ser este um restaurante que merece uma viagem. Pelas navalheiras, amêijoas e outros petiscos como a moreia frita, a feijoada de búzios ou as saladas de ovas ou polvo, tão frescos que nos trazem o mar à boca.
É como lhe dizia, um espaço simples, humilde até, construído à medida das necessidades e tendo em conta o pouco terreno. As duas modestas esplanadas são compostas por mesas e cadeiras de plástico, material que contrasta com a madeira do interior. Nem é preciso esperar pelo Verão para sentar-se à esplanada. Basta olhar para o céu e ver se ele está a rir.
O mar sente-se perto e o cais das barcas fica no fundo da rua. Dessas mesmas barcas que o pai do actual proprietário foi ganhar o nome há mais de 30 anos, altura em que a tasca servia os pescadores.
Lá dentro e sempre que o vento estiver por longe, as janelas abrem-se. Entra o sol radioso sem interferências e entra o cheiro a campo e a mar. As paredes estão forradas a fotografias do cais de outros tempos e de uma praia deserta muito perto do restaurante mas só para quem sabe lá chegar... As conchinhas pregadas na parede dão mais um ar de singelez. Tudo simples como simples continua a ser o Tranquitanas.
Enquanto se conversa, na mesa já está um queijinho, as azeitonas, o pão e o paio alentejanos. Os guardanapos e as toalhas são de papel. As cadeiras compostas por almofadas no assento são das poucas inovações que ali pode encontrar, mas em compensação o peixe é fresco. Vem da costa alentejana, dos pescadores que sempre comercializaram aqui. Por isso as desculpas da gerência, mas se o mar não tiver com disposição, não se serve peixe. Ponto final, ou prefere ser enganado?
Comi um arroz de tomate (saído da horta) e ainda hoje me lembro dele. Acompanhei com filetes de peixe pampo mas podia casá-lo com moreia frita. As doses são muito bem servidas e deve ser raro sair de lá alguém descontente.
Sargo, dourada e robalo no carvão e ainda caldeirada, de chocos e à pescador, para matar as saudades do mar. Para estômagos mais resistentes, as feijoadas de chocos ou de búzios são do mais procurado na zona. O mar como complemento de um sustento que sai da terra e que se encontra muito no prato.
Nos campos ainda se vêem burros, colaboradores do homem e auxílio indispensável do muito que aqui se faz no campo da agricultura. As migas assistem à carne de porco e depois há vários bifes como alternativa.
Já agora não deixe de fazer o gosto à neta do fundador e prove o doce de vinagre. Escusado será dizer que volte porque sei que o fará mais tarde. Com toda a certeza.
REPORTAGEM ACTUALIZADA EM JULHO DE 2009